Esta semana, os encontros serão presenciais. Na agenda europeia conta-se uma reunião do Conselho Europeu, na quinta-feira em Bruxelas, e uma reunião híbrida da Coligação das Vontades, na sexta-feira em Londres e por videoconferência. Volodymyr Zelensky é esperado em ambas. A renovada demonstração de apoio dos aliados europeus a Kiev pode ser interpretada de várias formas. Por um lado, procura replicar o sucesso da reunião multilateral na Casa Branca, no final de agosto. Depois do encontro com a presença de alguns dos aliados de Zelensky que mantêm boas relações com Trump, o Presidente norte-americano pareceu fazer uma aproximação inédita à Ucrânia. Semanas depois, num novo encontro com Zelensky, desta vez em Nova Iorque, chegou a dizer que a Ucrânia tinha hipóteses de recuperar todos os territórios perdidos. Agora, deu novo passo atrás e afirma, descomprometido com o futuro distante, que “na guerra, nunca se sabe”.

Por outro lado, o bloco europeu tem defendido repetidamente que as negociações não podem decorrer sem a Ucrânia estar sentada à mesa. Em casos em que a Ucrânia não seja convidada — como acontece na cimeira de Budapeste — os aliados europeus procuram assegurar a melhor coisa a seguir a uma presença direta: a presença de um aliado vocal. É neste contexto que um grupo de líderes europeus estará a tentar encontrar forma de participar na cimeira de Budapeste (se esta se chegar a realizar), segundo avançou o Politico.

Neste sentido, as movimentações mais recentes dos líderes europeus aconteceram em resposta ao anúncio da cimeira de Budapeste, onde viram um risco acrescido para a Ucrânia. Não só pela memória do Memorando de Budapeste, mas por um motivo bem mais atual: o facto de temerem o que pode acontecer se Orbán, Trump e Putin fossem deixados sozinhos na mesma sala a decidir o futuro da Ucrânia. O perigo de as negociações penderem na direção do Kremlin quando a Ucrânia não participa nas negociações já é real. Mas, neste caso, acresce ao perigo a presença de Orbán, que pode desequilibrar ainda mais a balança, dada a sua proximidade com Moscovo e a inimizade que tem por Kiev, que acusa de perseguir a minoria húngara no país.

A ansiedade gerada pelo anúncio da cimeira de Budapeste ficou visível nas reações de alguns líderes europeus ao anúncio. A alta-representante para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, admitiu que “não é bom ver uma pessoa com um mandado de captura emitido pelo TPI [Tribunal Penal Internacional] vir a um país europeu”. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia também olhou para a questão legal, mas foi mais longe: “O único lugar para Putin na Europa é em Haia, em frente ao tribunal, não em nenhuma das nossas capitais“.

Em causa está o mandado de captura emitido pelo Tribunal contra Vladimir Putin e o facto de a Hungria ratificar os Estatutos de Roma e ser obrigada a cumpri-lo. Contudo, Orbán justificou o convite com o facto de a Hungria ter iniciado os procedimentos para se retirar do TPI, mesmo não estando o processo concluído. A questão colocou-se ainda em relação à rota que Putin teria de fazer para chegar de Moscovo à Hungria, que obriga a sobrevoar pelo menos um outro Estado da UE — a Polónia recusou, a Bulgária chegou a disponibilizar-se. No entanto, os detalhes logísticos não chegaram a precisar de um olhar mais fundo, quando o acordo nem sequer é possível quanto ao princípio base de um cessar-fogo.