O escritor israelita David Grossman acusou Israel de estar a provocar um genocídio em Gaza, numa entrevista publicada esta sexta-feira no jornal italiano La Repubblica, dizendo que o faz “de coração partido”.

Grossman fez a afirmação depois de duas organizações de defesa de direitos humanos de Israel, a B’Tselem e a Médicos pelos Direitos Humanos, terem publicado relatórios acusando as forças israelitas de cometer genocídio na Faixa de Gaza, e quando a fome se está a generalizar.

“Durante muitos anos, recusei-me a usar o termo ‘genocídio’”, disse o escritor e activista pela paz na entrevista. “Mas agora não consigo evitar, não depois do que li nos jornais, não depois das imagens que vi, não depois de falar com pessoas que lá estiveram, não posso evitar usá-lo”, declarou ao jornal, acrescentando que o faz “com uma dor imensa e de coração partido”.

A palavra, continuou, “é uma avalancha: uma vez dita, torna-se maior”, e “acrescenta ainda mais destruição e sofrimento”.

“Pergunto-me: como chegámos aqui? Como é que chegámos a ser acusados de genocídio? Basta pronunciar essa palavra — “genocídio” — em referência a Israel, ao povo judeu: só isso, o facto de que essa associação possa sequer ser feita, já deveria ser suficiente para nos dizer que está a acontecer connosco algo de muito errado.”

Ouvir as palavras “fome” e “Israel” juntas é especialmente doloroso por causa do Holocausto, disse ainda Grossman.

O autor é um dos mais importantes escritores de Israel, crítico do Governo e uma voz pela paz. Perdeu um filho, morto em combate no Líbano em 2006.

“A ocupação corrompeu-nos”, declarou na entrevista. “Estou absolutamente convencido de que a maldição de Israel começou com a ocupação dos territórios palestinianos em 1967. Talvez as pessoas estejam cansadas de ouvir isso, mas é a verdade. Tornámo-nos militarmente poderosos e caímos na tentação nascida do nosso poder absoluto e da ideia de que podemos fazer qualquer coisa.”