O Banco de Sementes do Milénio (Millennium Seed Bank), considerado o maior e mais importante banco de sementes silvestres do mundo, comemora esta segunda-feira 25 anos de existência com o lançamento um podcast intitulado Unearthed: The need for seeds. A actriz australiana Cate Blanchett dá rosto e voz ao projecto, que tem como objectivo angariar 34 milhões de euros para garantir a continuidade do trabalho britânico de conservação de sementes. O entrevistado do primeiro episódio é o monarca britânico Carlos III, .

“O trabalho que o banco de sementes realiza neste país é urgente. Fiquei chocada ao saber que 97% dos prados de flores silvestres foram dizimados”, afirma Cate Blanchett, citada num comunicado dos Jardins Botânicos Reais de Kew, em Londres, entidade responsável pelo Banco de Sementes do Milénio.

Localizado em Wakehurst, no condado britânico de Sussex, o Millennium Seed Bank reúne e conserva sementes que podem ter um papel crucial na adaptação às alterações climáticas e à preservação da biodiversidade. Funciona um pouco como uma Arca de Noé do reino vegetal, acolhendo cerca de 2,5 mil milhões de sementes de aproximadamente 40 mil espécies.




O rei britânico Carlos III é o convidado de estreia do podcast Unearthed: The need for seeds, apresentado pela actriz Cate Blanchett
Chris Jackson/DR

“Acho maravilhoso o que o banco de sementes está a fazer, mas temos de acelerar o processo”, alerta o rei Carlos III, citado na nota de imprensa. Foi Carlos III, um entusiasta do trabalho dos Kew de conservação, restauração de habitats e desenvolvimento de soluções baseadas na natureza, quem inaugurou o banco de sementes em 2000, então na qualidade de Príncipe de Gales.

Como conservar sementes?

Há sementes de todos os tamanhos: das que pertencem à orquídea terrestre chinesa Bletilla striata, com apenas 0,07 milímetros de diâmetro, às da palmeira de origem jordana Hyphaene thebaica, com mais de sete centímetros.

Cada semente do banco está cuidadosamente limpa, seca e guardada a uma temperatura de 20 graus Celsius negativos. Este protocolo de conservação garante que, no futuro, as sementes mantêm o potencial de germinação.

A recolha das sementes resulta de um esforço colaborativo global que envolve 279 parceiros em cerca de 100 países. Esta rede internacional transformou o banco de sementes num centro de investigação e conservação de referência, refere o comunicado, que menciona o impacto directo na restauração ecológica e na segurança alimentar.

Alexandre Antonelli, director científico dos Jardins Botânicos Reais de Kew, assegura que o Millennium Seed Bank criou uma das maiores redes de segurança biológica do mundo. “Isto é apenas o começo. Os próximos 25 anos serão decisivos para enfrentar os desafios da perda de biodiversidade, das alterações climáticas e da insegurança alimentar”, refere ​Alexandre Antonelli.

Restaurar a Austrália

O banco de sementes britânico é, contudo, mais do que um repositório estático de matéria vegetal. As colecções do Millennium Seed Bank têm sido utilizadas para aperfeiçoar culturas agrícolas, compreender melhor os mecanismos biológicos de adaptação climática, formar novas gerações de especialistas em conservação e, por fim, restaurar ecossistemas degradados.

As colecções do banco de sementes ajudaram, por exemplo, a restaurar a vegetação após violentos incêndios florestais que devastaram a Austrália em 2019 – uma iniciativa que teve um significado especial para Cate Blanchett.

“Existem quase nove mil espécies de plantas australianas armazenadas aqui. E sabemos que os incêndios florestais estão a ficar cada vez mais intensos”, afirmou Cate Blanchett à cadeia britânica BBC. “É triste dizer isso, mas saber que essa apólice de seguro existe é um grande consolo para mim”, confessa a actriz australiana.