Fábio Panone Lopes, especialPrecisamos falar sobre combate à violência contra a mulher.Fábio Panone Lopes, especial

Pedro Pascal anda onipresente. Da reportagem no programa dominical da última semana, às telonas como integrante d’O Quarteto Fantástico — quem seria mais maravilhoso  do que ele? — a capa da Vanity Fair, poucos espaços escapam da pascalmania. Sou uma dessas. Poderia discorrer muitas linhas sobre o ator chileno criado nos Estados Unidos, que deixou o país de origem fugindo da ditadura de Pinochet. Sobre esse jeito sexy e meio despretensioso de circular pelos tapetes vermelhos mundo afora. Mas uma mulher foi espancada com 61 socos no rosto, desferidos pelo namorado dentro de um elevador em Natal.

Passeio no Parque dos Macaquinhos para encontrar meu afilhado, ele me acha a caminho do parquinho e começamos uma rodada de diversões pelo espaço. Começo a andar de balanço, escorregador, triciclo, escuto “mais forte, mais alto”, fico “presa” na parte de cima da gangorra — embora não tenha tirado os pés do chão —, tiramos selfies de língua de fora e com gargalhadas, viro torcedora durante a partida de futebol “dos grandes” e espectadora para ver o arranhão no joelho “que dói só um pouquinho”. Poderia falar sobre como é lindo ver uma criança crescer e que o olhar dela captura. Mas uma mulher foi espancada com 61 socos no rosto, desferidos pelo namorado dentro de um elevador em Natal.

A Flip se aproxima, eu e Marcelo conversamos sobre o festival, falamos sobre o homenageado Leminski, isso de querer/ser exatamente aquilo que a gente é/ainda vai/nos levar além. Conversamos sobre a programação off Flip, o preço exorbitante das diárias dos hotéis e sobre a promessa de, no próximo ano, me programar para ir a Paraty nesse período. Eu poderia, inclusive, falar como a cidade é mágica e divertida. Mas uma mulher foi espancada com 61 socos no rosto, desferidos pelo namorado dentro de um elevador em Natal.

Não sou muito boa para fazer planos, prefiro rotinas sem muitos rituais, raramente planejo viagens com antecedência e gosto de ser surpreendida pelo acaso. Festejo cada instante com a consciência de que ele é irrepetível, sou grata pelos movimentos que me trouxeram até aqui. Poderia falar do momento feliz que estou vivendo. Mas uma mulher foi espancada com 61 socos no rosto, desferidos pelo namorado dentro de um elevador em Natal.

Olho para a mesa com amigas que admiro e fico feliz por ter aproximado uma da outra. Juntamos universos distintos que, no final das contas, são muito parecidos. Rimos, dançamos e brindamos — muitas vezes. Penso no privilégio que é ter quem gosta da gente por perto, quem podemos nos espelhar, quem fica feliz de verdade com a nossa felicidade. Poderia discorrer sobre a honra de estar cercada por pessoas maravilhosas. Mas uma mulher foi espancada com 61 socos no rosto, desferidos pelo namorado dentro de um elevador em Natal e nada pode ser mais importante (e urgente) do que falar sobre o combate à violência contra a mulher.