O conselho de administração da Carris, presidido por Pedro Bogas, apresentou a demissão e Carlos Moedas aceitou-a. A informação, que surge na sequência do anúncio, ao início da noite de terça-feira, de que o presidente da Câmara de Lisboa não reconduziria Bogas nem a restante administração, foi comunicada pela autarquia, esta tarde, através de comunicado.
“O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, reuniu com o Presidente do Conselho de Administração da Carris, Pedro de Brito Bogas. Neste encontro foi apresentada a renúncia ao cargo de Presidente da Carris, extensível a todos os restantes elementos do Conselho de Administração da empresa”, diz o texto. Nele se refere que a actual administração garantirá a gestão, “dentro dos prazos e limites legais”, até à escolha de um novo presidente e conselho de administração da empresa municipal.
“O presidente Carlos Moedas destaca a forma profissional e corajosa com que no momento mais duro do mandato, na sequência do trágico acidente do Elevador da Glória, o actual Conselho de Administração defendeu os interesses da empresa e, apesar de terem colocado o lugar à disposição desde a primeira hora, aceitaram manter-se em funções”, refere o comunicado.
Na nota enviada às redacções, a Câmara de Lisboa diz que Carlos Moedas “compreende e aceita os motivos apresentados, considerando fundamental a nomeação de uma nova administração, que será apresentada oportunamente, para um novo mandato”. E salienta-se que o edil da capital “reforça e assume a preocupação de querer restabelecer o mais depressa possível a total confiança e credibilidade de uma empresa fundamental para a cidade de Lisboa”.
A informação de que Pedro Bogas e a sua administração não seriam reconduzidos surgiu na sequência da revelação na véspera do relatório preliminar às causas do acidente com o Elevador da Glória, feito pelo GPIAAF (Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários).
Uma versão definitiva do processo de averiguações por parte do referido gabinete será publicada em Setembro do próximo ano. Mas no relatório agora publicado são, desde já, postas em evidência fragilidades em áreas críticas como a manutenção do elevador, a compra do cabo e as garantias de segurança do equipamento, que terão contribuído de forma crítica para o acidente que provocou 16 mortes e 22 feridos.
Entre as principais conclusões do documento encontra-se a de que o cabo utilizado “não estava certificado para utilização em instalações para transporte de pessoas” mas que, apesar disso, a empresa não tomou providências para averiguar da sua adequabilidade à função. Além disso, o relatório refere também que o sistema de frenagem nunca terá sido testado pela empresa.
Poucos instantes depois da publicação do relatório, a administração da empresa reagia através de comunicado, alegando desconhecer muitas das falhas apontadas, incluindo o incumprimento na manutenção por parte da empresa contratada para o efeito, a MNTC. Além disso, alegava, o processo do referido cabo teria sido uma decisão da anterior administração, processo pelo qual não poderia, por isso, ser responsabilizada.
Na terça-feira, após a profusão de críticas à forma como tanto a administração da empresa de transportes, bem como Carlos Moedas, lidaram com o caso, o presidente da Câmara de Lisboa deixava passar a mensagem de que não iria reconduzir Pedro Bogas e a sua equipa, cujo mandato terminaria em Maio. À SIC, fonte do gabinete do autarca disse isso mesmo. Isto porque Moedas considerava “bastante graves o conjunto de falhas técnicas detectadas, ao longo de vários anos, e processos que envolvem, essencialmente, as duas últimas administrações”. Em consequência, explicava, a câmara “não irá reconduzir a actual administração da Carris e assume a preocupação de querer recuperar o mais depressa possível a confiança e credibilidade da empresa”.
Na reunião de vereação desta quarta-feira, realizada à porta fechada, o assunto voltou a ser discutido, tendo a oposição questionado Moedas, entre outras coisas, sobre as condições em que Pedro Bogas se manteria no cargo. O PCP apresentou mesmo um requerimento para saber que medidas seriam adoptadas pela câmara.
O PS, pela voz do vereador Pedro Anastácio, pediu a demissão do conselho de administração e do seu presidente. O eleito considerou que não poderiam manter-se em funções “nem mais um dia, porque além das falhas que se conhecem hoje e que têm de ser assumidas integralmente, trabalham diariamente para preparar a sua defesa em processos judiciais que antecipam, em vez da prossecução do interesse político”.
Mas Anastácio também pediu a demissão do vereador Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), vice-presidente da autarquia, lembrando que, “em tempos, disse que se existisse alguém a assumir a responsabilidade política, seria ele”.