A Galp vai “continuar a fazer o que faz bem”, não porque esteja “viciada” em combustíveis fósseis, mas numa lógica de aceitar que tem uma vantagem competitiva na exploração e desenvolvimento de petróleo e gás. E também porque “o mundo mudou” nos últimos anos no que toca à velocidade da transição energética, que vai “demorar mais tempo do que o esperado”.
Nuno Bastos, administrador executivo com o pelouro da exploração e produção (upstream), avisa que vai ser preciso descobrir muito mais barris durante os próximos anos de forma a sustentar a procura de combustíveis fósseis. A cada ano que passa desaparecem cinco milhões de barris do mercado, o que equivale à produção anual do Brasil, e que é necessário compensar. Com este prolongamento do tempo da transição para os combustíveis não fósseis, todas as fontes energéticas vão ser críticas. E a “Galp tem a sua expertise neste área e a ambição de continuar a procurar novas oportunidades de crescimento”.
Numa conversa com jornalistas, o gestor da Galp não nega que houve um recuo face à estratégia anunciada em 2021 quando o então CEO, o britânico Andy Brown, anunciou ao mundo que a empresa ia deixar de procurar novos campos de petróleo. O Brasil, onde foi selecionada para novos blocos na bacia de Pelotas a sul, Namíbia e São Tomé, são os locais preferenciais, mas a empresa não afasta analisar oportunidades que surjam fora das áreas de fronteira com as que já tem. Nuno Bastos assume que as posições atuais da Galp em matéria de pesquisa “são curtas”.
A menor ambição no caminho para a descarbonização, que é partilhada com outras grandes empresas do setor, já era visível na trajetória recente da Galp, em particular desde que foi conhecida a descoberta de reservas importantes na Namíbia em 2024. Mas Nuno Bastos aponta também para outras razões.
A mudança do mundo nos últimos cinco anos é explicada por variáveis como a guerra na Europa e a crescente importância dada à segurança de abastecimento, mas também o reconhecimento de que “sustentabilidade a todo o custo não é viável”. Temos também um problema de competitividade, sublinha, porque a Europa tem já custos de energia muito mais altos do que os Estados Unidos, em grande medida porque paga mais pelo gás natural.
É certo que as empresas continuam a fazer esforços de eletrificação nos consumos que podem ser elétricos, e investimentos em gases renováveis, como o hidrogénio verde e o biometano, e em biocombustíveis. A Galp tem em curso um investimento de mais de 600 milhões de euros para descarbonizar a refinaria (substituindo gás natural) e para produzir combustíveis mais limpos, como o SAF usado na aviação e o HVO que é misturado no gasóleo. Mas estes produtos são mais caros e é preciso criar a procura que os viabilize
Para essa descarbonização, a produção de petróleo é importante, na medida em que permite gerar os recursos financeiros para financiar estes investimentos, argumenta, a par com o pagamento de dividendos, a procura de novos campos e o desenvolvimento dos que estão no portefólio da empresa.
Até porque estes novos produtos são menos competitivos porque são mais caros e os incentivos financeiros públicos são poucos, em particular em Portugal. Segundo os responsáveis da Galp, o projeto de reconversão da refinaria de Sines beneficia de muito menos apoios dos que foram dados em Espanha a um projeto simular da Repsol.
A conversa com jornalistas aconteceu a pretexto do arranque da produção de um novo super-campo em águas profundas do Brasil, com reservas recuperáveis estimadas em mais de mil milhões de barris, e que vai permitir à Galp aumentar em 30% a produção de petróleo. O projeto Bacalhau corresponde a um investimento de dois mil milhões de euros para a empresa com sede em Portugal, o maior já feito num ativo de produção num longo ciclo que só agora começa a dar o retorno.
Quando estiver a produzir no seu máximo, o Bacalhau vai gerar um cash-flow de 400 milhões de dólares (343 milhões de euros) por ano para a Galp, afirmou o administrador da área do upstream. O campo terá uma produção diária de 220 mil barris diários, que é uma quantidade equivalente à capacidade de processamento da refinaria de Sines, mas a parte que cabe à Galp são 40 mil barris, o que corresponde aos 20% que tem na concessão.
Este é um projeto que está acima do standard da indústria petrolífera quer em termos de retorno, quer em termos de sustentabilidade e eficiência, garante Nuno Bastos, que destaca uma eficiência energética que permite otimizar o consumo em 50% face ao padrão do setor, graças a um sistema inovador de ciclo combinado a gás natural. Sem deixar de admitir algum contrasenso no que toca à descarbonização, Nuno Bastos diz que a empresa procura alcançar “o melhor dos dois mundos para produzir e entregar o petróleo da forma mais eficiente possível”.
Para além do Brasil, onde concorreu a novas licenças, o desenvolvimento da descoberta feita na Namíbia é o foco das atenções na Galp, que espera encontrar um parceiro para este investimento até ao final do ano. O desenvolvimento de um projeto desta magnitude envolve um investimento total que pode chegar aos dez mil milhões de euros, quase o equivalente à capitalização bolsista da Galp. Esta é uma indústria de capital intensivo. É preciso investir muito com probabilidades de sucesso relativamente baixas — uma em cinco — cada perfuração para procurar petróleo ou gás no mar pode custar cem milhões de euros.
O retorno é incerto e pode demorar mais de dez anos. A licença do Bacalhau foi concedida em 2012 e só agora arrancou a produção. Na Namíbia ainda não há decisão final de investimento, mas o valor comercial das descobertas é já uma garantia.
Por causa da dimensão, do risco e da capacidade de execução, “só faz sentido que estes negócios aconteçam em parceria”, refere Nuno Bastos. E há muitos interessados em partilhar esse risco (e ganho) na Namíbia, ainda que a Galp esteja a demorar mais tempo que o previsto para encontrar parceiro. Foi uma demora propositada com o objetivo de identificar o mais possível o valor da descoberta para garantir “que conseguimos o melhor dos dois mundo em termos de criação de valor para a Galp”.
A Galp tem 80% deste bloco (e fez 100% do investimento já que os outros parceiros são locais) e quer ceder 40% do total a uma empresa ou empresas que assumam também o papel de operadores.
A 14 de janeiro de 1986 um acontecimento muda o rumo da campanha das presidenciais: a inesperada agressão a Soares na Marinha Grande. Nas urnas, o socialista e Zenha lutam por um lugar na segunda volta frente a Freitas. A “Eleição Mais Louca de Sempre” é o novo Podcast Plus do Observador sobre as Presidenciais de 1986. Uma série narrada pelo ator Gonçalo Waddington, com banda sonora original de Samuel Úria. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo aqui e o terceiro aqui.]
Tem um minuto?
O Observador está a realizar junto dos seus leitores um curto estudo de apenas quatro perguntas. Responda aqui.