Aquela máxima de que a vida de Cininha de Paula daria um livro é agora um fato concreto. A atriz e diretora colocou no papel suas vivências de bastidores, estúdios e palcos. Ao lado do diretor Charles Daves, ela lança “Caminhos do ator — Do palco à câmera” (Rubi Editorial), seu primeiro livro, no dia 03 de novembro, na Livraria da Travessa de Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro. A obra, que marca os 20 anos da escola CN Artes, fundada pela dupla, nasce do desejo de compartilhar o que ela chama de “caminho das pedras” para quem busca se firmar na profissão.
— A ideia surgiu depois que dei um curso online que eu nem acreditava muito que fosse funcionar. Mas as pessoas começaram a pedir um material didático, um manual daquilo que tinha acabado de falar. Eu e o Charles resolvemos então transformar tudo de uma forma mais literária — conta Cininha ao NEW MAG.
Ao longo dacarreira, Cinha sempre aliou rigo e disciplina sem descuidar da leveza e do bom humor. Tanto que o prefácio é assinado por Miguel Falabella, parceiro de longa data, que enxerga na publicação um marco para o ensino da atuação no Brasil.
— Não dou metodologia nenhuma. Ensino o caminho das pedras, por isso o nome do livro. É onde você tem que se nutrir e de que forma se nutrir dos conhecimentos que já existem nos livros, mas que não têm um lugar único pelo qual você vá — explica.
Com mais de 40 anos de carreira, a diretora soma no currículo títulos que ajudaram a moldar o humor e o drama brasileiros na TV, no teatro e no cinema — de “Cobras & lagartos” e “Salsa e merengue” a “Sai de baixo” e “Toma lá, dá cá”. Ela também dirigiu filmes como “De perto ela não é normal” e “Crô em família”, e vê no livro uma nova forma de contribuir com o ofício.
— É uma leitura para quem quer ser ator, ou para quem já foi e quer se revisitar — define.
Ainda que a celebração seja pelo livro, Cininha fala com igual entusiasmo sobre o presente.
— Estou caminhando, cantando e seguindo a canção — brinca. Além de dois projetos de longa-metragem previstos para o próximo ano, ela se prepara para dirigir uma novela vertical com diretores jovens e segue à frente de “Romeu e Julieta”, musical com canções dos Beatles, em cartaz no Teatro Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Aos 66 anos, diz que vive um momento de liberdade criativa:
— Já passei a vida tendo que fazer o que aparecia pra pagar boleto. Agora posso escolher o que quero fazer — afirma. E completa: — Hoje estou mais exigente. Não quero fazer qualquer bobagem só pra estar no ar.
A diretora também comenta sobre a entrada de influenciadores digitais em papéis de destaque nas novelas e no cinema, em escolhas feitas, por muitas das vezes, apenas por conta de seus números de seguidores nas redes sociais:
— Acho isso uma loucura. Já é uma carreira tão difícil e tão disputada. É uma exposição cruel. Se ela tiver estudado, se preparado, tudo bem. O problema é quando a escolha é feita só para atrair mídia. Se você não está preparado e se você pega alguém para te monitorar nesse momento, pode até dar certo. Não critico ninguém por nenhum tipo de atitude, só critico o que a pessoa pode fazer consigo próprio para acabar com suas possibilidades de trabalho.
Mesmo com o olhar crítico, Cininha mantém o entusiasmo com a profissão — e com a sala de aula, que nunca deixou.
— Na minha essência eu também sou professora, não posso abandonar essa parte de formação. É o que me move. O livro, inclusive, vem desse lugar, da vontade de compartilhar o que aprendi e provocar o ator a se olhar com mais profundidade — diz a artista.
Cininha vai retornar à frente das câmeras no filme “Toda nudez será castigada”, adaptação de Daniel Filho para a obra de Nelson Rodrigues (1912-1980) com estreia prevista para o ano que vem.
— Foi um reencontro lindo, pelas mãos do Daniel, ao lado de um elenco incrível. Disseram que eu fiz direitinho, então já tá ótimo — brinca a artista, que tem como colegas na empreitada Hermila Guedes, Otávio Müller, Carla Daniel e Guilherme Fontes.
Antes disso, ela havia feito uma participação como atriz na nova versão da “Escolinha”, da qual também foi diretora, interpretando a dona Escolástica. O icônico papel foi de sua própria mãe, Lupe Gigliotti (1926-2010):
— Foi muito difícil fazer a minha mãe. Nem quis me olhar no espelho caracterizada. Entrei em cena e fiz, porque era uma homenagem. Mas não consegui assistir depois — confessa a artista.
Créditos: Bruno Nunes (texto) e reprodução / Internet (imagem)