Os jornalistas Andrzej Poczobut, da Bielorrússia, e Mzia Amaglobeli, da Geórgia, ambos detidos por ordem de governos autoritários, foram, esta quarta-feira, distinguidos com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu.

“Honramos dois jornalistas cuja coragem brilha como um farol para todos aqueles que se recusam a ser silenciados”, afirmou a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, ao anunciar a decisão. “Ambos pagaram um preço pesado por divulgarem a verdade do poder, tornando-se símbolos da luta pela liberdade e pela democracia”, acrescentou.

Poczobut é um jornalista da minoria polaca na Bielorrússia e foi preso várias vezes pelo seu trabalho crítico do regime de Aleksandr Lukashenko, sobretudo na denúncia de abusos de direitos humanos. Em 2021, foi detido e, dois anos depois, condenado a oito anos numa colónia penal por “incitamento à hostilidade religiosa e étnica”. Desde então que as condições da sua detenção não são conhecidas e os seus familiares têm sido impedidos de o visitar.

Amaglobeli fundou dois importantes meios de comunicação independentes na Geórgia e em Agosto foi condenada a dois anos de prisão, acusada de agressão a membros das forças de segurança e resistência à detenção, durante a cobertura dos protestos contra o Governo na cidade de Batumi. A jornalista rejeita as acusações e diz ter sido alvo de violência por parte das forças policiais.

A sua detenção foi condenada por várias organizações internacionais e encarada como parte de uma perseguição alargada movida pelo Sonho Georgiano, o partido no poder, contra os jornalistas independentes durante a cobertura dos protestos pró-União Europeia que se sucedem quase diariamente há quase um ano.


Entre os finalistas desta edição do Prémio Sakharov, estavam os jornalistas e trabalhadores humanitários na Palestina e os estudantes sérvios que lideraram os protestos contra o Governo.

Prémio a leste

Os galardoados deste ano, propostos pelo Partido Popular Europeu (PPE, de centro-direita), reflectem a preocupação crescente por parte da UE com a sua vizinhança a leste.

Na Bielorrússia, o regime de Lukashenko, no poder há mais de 30 anos, tem dado um apoio fundamental à Rússia na invasão da Ucrânia. Em 2020, o grande movimento de oposição criado na sequência das eleições consideradas fraudulentas por Bruxelas conseguiu mobilizar parte considerável da sociedade, mas acabou por ser esmagado pela força do regime. A maioria dos líderes da oposição foi detida ou abandonou a Bielorrússia e o regime fechou-se de forma ainda mais radical.

Em 2020, a oposição bielorrussa liderada por Sviatlana Tsikhanouskaia, a candidata derrotada por Lukashenko, já tinha sido escolhida para receber o Prémio Sakharov.

Até recentemente, a Geórgia era vista como um caso de sucesso entre os países da Europa de Leste que ambicionavam integrar a UE. Com uma sociedade fortemente europeísta, o país apresentava progressos importantes no processo de adesão e em Novembro de 2023 havia obtido o estatuto de país candidato. Em poucos meses, tudo mudou. A aprovação da lei “dos agentes estrangeiros”, vista como um instrumento para abafar a sociedade civil, desencadeou um processo imparável que resultou num afastamento total entre a Geórgia e a UE.

O fim do processo de adesão foi recebido com enormes protestos por grande parte da sociedade, que considera o actual Governo ilegítimo e fraudulento, acusando-o de querer instaurar um regime autoritário na Geórgia. As manifestações sucessivas contra o Sonho Georgiano têm sido fortemente reprimidas pelas forças de segurança, que estendem a repressão aos jornalistas críticos do regime.

Em 2024, o prémio foi atribuído à líder da oposição venezuelana María Corina Machado — que este ano foi distinguida com o Prémio Nobel da Paz — e ao candidato presidencial Edmundo González.

Entre os laureados mais célebres encontram-se nomes como Nelson Mandela (distinguido em 1988), Xanana Gusmão (1999), Kofi Annan (2003), Jafar Panahi (2012), Malala Yousafzai (2013) ou Alexei Navalny (2021).

O prémio foi criado em 1988, em homenagem ao físico soviético e dissidente político Andrei Sakharov — crítico do regime soviético que tentou sensibilizar o mundo para os perigos de uma corrida ao armamento nuclear —, e serve para distinguir indivíduos, grupos ou organizações que se destacaram nas áreas da defesa dos direitos humanos, liberdade de expressão e valores democráticos.

Os vencedores receberão o galardão numa cerimónia solene na sessão plenária de 16 de Dezembro, em Estrasburgo. Recebem ainda um prémio de 50 mil euros.