Adrian Tync/Wikimedia Commons

Culiseta annulata, o inseto identificado na capital islandesa.

Islândia, o último reduto para além da Antártida, foi invadido. Culiseta annulata pode não estar só “de férias”.

A Islândia, considerada o único país do mundo sem mosquitos, acaba de detetar exemplares destes insetos no seu território. Pode ser um sinal de algo mais grave do que pode parecer, mas também pode ser um mero acaso.

Três exemplares da espécie Culiseta annulata — duas fêmeas e um macho — foram detetadas a cerca de 30 quilómetros de Reiquiavique, a capital do país, confirmou o entomólogo Matthias Alfredsson, do Instituto Islandês de Ciências Naturais, à AFP, esta quarta-feira. Os três foram apanhados em armadilhas de cordas embebidas em vinho, um método que utiliza vinho aquecido com açúcar para atrair insetos

Tudo isto acontece pouco tempo depois de a Islândia bater um recorde de temperatura, na primavera: viveu pela primeira vez mais de 10 dias consecutivos com temperaturas acima dos 20ºC, tendo ultrapassado os 26ºC em certas zonas.

“Percebi imediatamente que isto era algo que nunca tinha visto antes“, escreveu nas redes sociais o entusiasta Bjorn Hjaltason, que encontrou os mosquitos num vale glaciar, citado pelo jornal islandês Morgunblaðið: “a última fortaleza parece ter caído”.

Até então, tanto quanto se sabia, apenas na Antártida e na Islândia se vivia 100% livre de mosquitos. Alfredsson garante que este é o primeiro registo de mosquitos em ambiente natural na ilha, depois de um exemplar isolado da espécie Aedes nigripes, típica do Ártico, ter sido encontrado num avião no aeroporto de Keflavik, mas entretanto perdido.

Os insetos deverão ter chegado recentemente ao país, por barco ou contentor, especula o investigador. Agora, a sua presença será monitorizada na próxima primavera para avaliar uma eventual propagação.

O aquecimento global foi a primeira suspeita de praticamente toda a gente, mas o investigador não acredita que as alterações climáticas sejam as (únicas) culpadas.

A espécie em causa está bem adaptada a climas frios e suporta longos invernos com temperaturas abaixo dos zero graus. Aliás, pode até ser encontrada na gélida Sibéria. Mas, claro, “é provável que o aumento das temperaturas aumente o potencial de outras espécies de mosquitos se estabelecerem na Islândia, caso cheguem”.

É, por isso, possível que a Culiseta annulata tenha chegado à Islândia para ficar.


Tomás Guimarães, ZAP //


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