A gripe aviária está de volta nos Estados Unidos. Após um verão tranquilo, o vírus atingiu dezenas de granjas avícolas, resultando na morte de quase 7 milhões de aves criadas em cativeiro no país desde o início de setembro. Entre elas: cerca de 1,3 milhão de perus, pressionando o suprimento nacional de perus às vésperas do Dia de Ação de Graças.

Relatos de aves selvagens infectadas também aumentaram, e três estados — Idaho, Nebraska e Texas — identificaram surtos em vacas leiteiras. O vírus geralmente surge no outono, quando pássaros selvagens começam a migrar para o sul; este ano, o aumento de casos está ocorrendo durante uma paralisação do governo, já que as agências federais que normalmente estão envolvidas na resposta estão trabalhando com equipes reduzidas.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que monitoram casos humanos, e o Departamento de Agricultura, que monitora surtos em animais, suspenderam a comunicação de rotina com os estados, deixando muitas autoridades sem orientações atualizadas sobre como detectar e conter a doença, ou um panorama nacional claro do surto.

— Por causa da paralisação do governo, sei menos do que normalmente saberia — constata Amy Swinford, diretora do Laboratório de Diagnóstico Médico Veterinário da Texas A&M, que faz parte de uma rede nacional de laboratórios que realiza vigilância da gripe aviária nos EUA.

O Departamento de Agricultura não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Emily Hilliard, porta-voz do departamento de saúde, por sua vez, afirma que o CDC estava mantendo seu centro de operações de emergência e sua capacidade de detectar e responder a ameaças urgentes à saúde pública.

Mas as batidas de imigração estão afugentando trabalhadores de fazendas de laticínios e aves, que poderiam, de outra forma, procurar ajuda para seus sintomas. E o país está à beira da temporada de gripe, o que pode complicar ainda mais os esforços para identificar casos de gripe aviária, segundo alguns especialistas.

A nova onda de detecções deixa claro que os últimos meses, durante os quais o vírus praticamente desapareceu das granjas avícolas do país e os preços dos ovos caíram de níveis recordes, foram uma trégua temporária. O aumento repentino deste outono começou mais cedo do que o habitual, e os especialistas estão se preparando para uma aceleração nos próximos meses.

— O vírus se estabilizou neste padrão sazonal. Isso continuará sendo a nova norma — explica Richard Webby, especialista em influenza do Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude.

O ressurgimento do vírus também significa que, com a aproximação dos feriados, os americanos poderão ver preços mais altos tanto para ovos quanto para perus.

— Nossos produtores de peru estão sendo duramente atingidos neste outono. Os preços do peru no atacado já estão 40% mais altos do que no ano passado — diz Bernt Nelson, economista da Federação Americana de Agências Agrícolas.

Desde o início de 2022, o vírus afetou mais de 180 milhões de aves criadas em cativeiro e matou inúmeras aves selvagens. Mas também infectou dezenas de novas espécies, o que sugere que ele mudou significativamente ao longo do tempo.

No início de 2024, a doença se espalhou para vacas leiteiras, atingindo mais de mil rebanhos em 18 estados. Já infectou pelo menos 70 pessoas, a maioria trabalhadores rurais, resultando em várias hospitalizações e uma morte.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos disse que usaria fundos de emergência para apoiar seu programa de gripe aviária durante a paralisação, e o CDC manteve alguns funcionários essenciais que poderiam ajudar em caso de emergência.

As demissões no CDC neste mês afetaram inicialmente especialistas em doenças infecciosas, incluindo a diretora interina do Centro Nacional de Doenças Infecciosas e Respiratórias, bem como todo o seu gabinete. O governo Trump também demitiu inicialmente dezenas de pesquisadores de doenças da agência, membros do Serviço de Inteligência Epidêmica que são enviados para ajudar a extinguir surtos.

Mas, menos de 24 horas depois, suas demissões foram anuladas. Ainda assim, muitos cientistas com experiência em gripe aviária foram afastados do trabalho, e o CDC suspendeu diversas ligações regulares que realizava para manter autoridades estaduais de saúde pública e veterinárias informadas sobre surtos.

As autoridades da agência normalmente atualizariam as autoridades estaduais sobre a escala dos surtos, quaisquer mudanças no vírus e as medidas de contenção recomendadas.

A Rede Nacional de Saúde de Laboratórios Animais, coordenada pelo Departamento, também suspendeu suas ligações semanais, o que permitia que os laboratórios compartilhassem informações. Os laboratórios desempenham um papel fundamental na vigilância da gripe aviária, recebendo financiamento federal para testar aves, vacas e outros animais para detectar o vírus.

— A suspensão das ligações significa que nenhum dos laboratórios está se comunicando em nível nacional. Portanto, se algo mudar, não teremos uma boa maneira de divulgar essas informações — ressalta Keith Poulsen, diretor do Laboratório de Diagnóstico Veterinário de Wisconsin.

O vírus também continua sendo uma ameaça para as aves selvagens, incluindo muitas espécies ameaçadas. No mês passado, a International Crane Foundation anunciou a primeira morte confirmada de um grou-americano, espécie em perigo de extinção, devido à gripe aviária. O grou, criado em um programa de reprodução em cativeiro, estava programado para ser solto na natureza, onde restam menos de mil exemplares da mesma espécie.