Em entrevista à revista Time, Donald Trump afirmou por três vezes, “isso não vai acontecer. Não vai acontecer porque dei a minha palavra aos países árabes”, durante as negociações de cessar-fogo em Gaza.
“Isso não vai acontecer. Israel perderia todo o apoio dos Estados Unidos se isso acontecesse”, declarou. “Isso não pode ser feito agora”, acrescentou.
A entrevista à revista Time realizou-se telefonicamente dia 15 de outubro e foi publicada esta quinta-feira.Trump respondeu na altura a uma pergunta direta sobre o que faria se Israel anexasse a Cisjordânia.
A polémica agravou-se repentinamente com a aprovação pelo Knesset, quarta-feira, de duas propostas de lei para anexar a Cisjordânia ocupada desde 1967. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já veio dizer que o projeto de anexação, preliminar, é “uma provocação da oposição”.
A aprovação das propostas, em plena visita do responsável pela diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, fez soar alarmes em Washington.
Rubio considerou que tal projeto iria ameaçar o cessar-fogo com o Hamas atualmente vigente na Faixa de Gaza, além de ser contraproducente.
O vice-presidente dos EUA, JD Vance, que terminava uma visita a Israel, considerou a ideia “um insulto”.
Mundo muçulmano reage em fúria
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina, sediado em Ramallah, afirmou “rejeitar firmemente as tentativas do Knesset” de anexar terras palestinianas.
E mais de uma dezena de países árabes e muçulmanos condenaram igualmente, numa declaração conjunta desta quinta-feira, a análise pelo parlamento israelita dos dois projectos de lei.
“A Arábia Saudita, a Jordânia, a Indonésia, o Paquistão, a Turquia, o Djibuti, o Omã, a Gâmbia, a Palestina, o Qatar, o Kuwait, a Líbia, a Malásia, o Egito, a Nigéria, a Liga Árabe e a Organização para a Cooperação Islâmica condenam veementemente a adoção destes projetos pelo Knesset israelita”, afirmou a declaração, divulgada pela Agência de Imprensa saudita, denunciando “uma flagrante violação do direito internacional”.
Netanyahu, contudo, demarcou-se do projeto e acusou a oposição de querer “semear a discórdia”.
“A votação do Knesset [parlamento] sobre a anexação foi uma provocação política deliberada da oposição para semear a discórdia durante a visita” dos responsáveis norte-americanos, declarou o chefe do Governo israelita num comunicado divulgado pelo seu gabinete.
Segundo Netanyahu, as iniciativas legislativas da anexação da Cisjordânia e outra respeitante ao colonato de Maale Adumim, aprovadas na primeira de três leituras na quarta-feira, “foram patrocinadas por membros da oposição”.
O projeto de lei de anexação da Cisjordânia foi aprovado com 25 votos a favor e 24 contra e o projeto de lei de anexação do colonato de Maale Adumim, recebeu o apoio de 32 deputados contra nove desfavoráveis.
Netanyahu frisou que, apesar de membros do seu gabinete terem votado a favor, os elementos do seu partido, o Likud, votaram contra. “Sem o apoio do Likud, é pouco provável que estes projetos cheguem a algum lado”, concluiu o primeiro-ministro israelita.
Trump força Bibi
Na sua última conversa com Netanyahu, Trump terá sido contundente, advertindo-o na ocasião que, caso Israel não aceitasse ou boicotasse o plano de paz e o cessar-fogo com o Hamas em Gaza, a aliança entre ambos terminaria.
“Bibi não podes lutar contra o mundo. Podes travar batalhas individuais, mas o mundo está contra ti”, recordou Trump nas declarações à Time, citando as palavras com que procurou convencer o primeiro-ministro israelita.
“Foi uma declaração muito direta e contundente a Bibi”, confirmou o enviado especial de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkoff, testemunha da conversa.
Trump considerou ainda que o ataque israelita contra posições de elementos do Hamas em Doha, no Catar, foi “terrível” e um “erro tático” de Netanyahu. O presidente norte-americano forçou depois o primeiro-ministro israelita a pedir desculpas ao emir do Catar, horas antes de anunciar o seu plano de cessar fogo para Gaza.
Contudo, para o líder norte-americano, o incidente também representou uma oportunidade para demonstrar aos países árabes que a guerra em Gaza poderia transformar-se num conflito regional e assim reforçar o apoio ao seu plano de paz.
Donald Trump confia que será possível até ao final do ano concretizar o objetivo de expandir os Acordos de Abraão, lançados durante o seu primeiro mandato presidencial e subscritos pelo Bahrain e pelos Emirados Árabes Unidos.
Os Acordos normalizaram as relações entre Israel e estes países árabes vizinhos. A adesão da Arábia Saudita, ator central na região, aos Acordos, iria garantir definitivamente a presença de Israel no Médio Oriente.
O líder de facto do reino, o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, tem marcada uma visita à Casa Branca a 18 de novembro, durante uma visita de Estado marcada entre 17 e 19 daquele mês.
Segundo a Time, a “visão otimista” do Presidente dos Estados Unidos traduz-se numa maior integração económica entre israelitas e países árabes, incluindo acordos de comércio livre, uma rede energética em Israel e linhas ferroviárias que liguem o Mediterrâneo ao Golfo Pérsico, com Trump como figura essencial para a concretização dos projetos.
Na entrevista, Donald Trump admitiu que poderá deslocar-se a Israel, “em breve”.
com Lusa