John Gilpin
O homem que foi testar a câmera e fotografou uma cena incrível
Keith Sapsford era um adolescente movido pela curiosidade e pela vontade de viver aventuras. Filho de uma família australiana, ele nunca pareceu se encaixar em uma vida comum. Mesmo com os pais o levando para viagens internacionais, o jovem frequentemente fugia de casa em busca de liberdade. Seu maior sonho era conhecer o mundo e, aos 14 anos, decidiu tentar realizá-lo de uma forma perigosa e improvável.
Em fevereiro de 1970, Keith fugiu do internato onde estudava e conseguiu chegar ao aeroporto de Sydney, na Austrália. Lá, ele teve a ideia de embarcar clandestinamente em um avião com destino a Tóquio, no Japão. O garoto acreditava que seria uma viagem inesquecível, e realmente foi, mas com um desfecho trágico.
O último voo
Três dias após desaparecer, Keith conseguiu burlar a segurança do aeroporto e se esconder no compartimento do trem de pouso de uma aeronave da Japan Airlines.
Reprodução
O homem que foi testar a câmera e fotografou uma cena incrível
Quando o avião decolou, o espaço foi fechado, e o jovem ficou preso. Porém, assim que o compartimento foi aberto novamente para recolher as rodas, o garoto foi lançado de uma altura de aproximadamente 46 metros. O impacto no solo foi fatal e instantâneo.
A foto que imortalizou o momento
O destino reservou uma coincidência macabra: enquanto Keith caía do avião, um fotógrafo amador, John Gilpin, testava sua câmera em outro ponto do aeroporto. Sem perceber o que estava acontecendo, ele acabou registrando o exato momento da queda do adolescente.
John Gilpin
A foto que impactou o mundo em 1970
Somente dias depois, ao revelar as fotos, Gilpin percebeu a terrível cena que havia capturado. A imagem se tornaria uma das fotografias mais impactantes do século 20, eternizando a trágica tentativa do garoto de “ver o mundo”.
O perigo dos voos clandestinos
Mesmo que Keith tivesse conseguido permanecer dentro do avião, suas chances de sobrevivência eram mínimas. Passageiros clandestinos enfrentam riscos extremos, como esmagamento pelas rodas, falta de oxigênio e temperaturas congelantes em grandes altitudes.
De acordo com estatísticas internacionais, apenas uma em cada quatro pessoas que se escondem em trens de pouso sobrevive à viagem. Os raros sobreviventes costumam embarcar em voos curtos e de baixa altitude, mas muitos chegam ao destino em estado grave de hipotermia.
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Keith Sapsford
Um alerta que o garoto ignorou
Em uma triste ironia, o pai de Keith, professor universitário de engenharia mecânica, já havia alertado o filho sobre os perigos de tentar uma façanha do tipo. Ele contou ao garoto a história de um menino espanhol que morreu ao tentar viajar escondido em um avião. Mesmo assim, Keith decidiu arriscar,talvez movido pela curiosidade ou pela sensação de invencibilidade típica da adolescência.
Quando o desespero fala mais alto
Casos como o de Keith Sapsford chamam atenção por seu caráter trágico, mas o embarque clandestino em aviões é uma prática ainda recorrente, sobretudo entre pessoas que vivem em regiões de guerra ou sob perseguições políticas.
A ex-chefe de operações do Conselho de Refugiados, Deborah Harris, afirmou em entrevista à BBC em 2012 que muitos refugiados “são frequentemente forçados a tomar medidas extremas para fugir de seus países” . Segundo ela, o desespero e a falta de recursos levam essas pessoas a buscar meios perigosos de fuga, sem tempo para planejar rotas seguras.
Para a maioria, trata-se de uma escolha desesperada pela sobrevivência. No caso de Keith, foi o impulso juvenil por aventura que o levou a um fim precoce, um episódio que até hoje serve como lembrete sobre os riscos mortais da curiosidade sem limites.