André Ventura disse, numa entrevista à SIC, que “o país está tão podre de corrupção, impunidades, bandidagens que eram precisos três Salazares para pôr isto na ordem”. A referência a António de Oliveira Salazar foi feita na sequência de uma pergunta sobre como o líder do Chega pretende cumprir a promessa de instaurar a “Quarta República” em Portugal e se isso pressupõe a realização de um golpe de Estado, tal como aconteceu nas anteriores transições de regime.

“Eu sou um democrata e sou mesmo, por natureza. Mas há uma expressão que se ouve muito e, de facto, faz sentido. De facto, não era preciso um Salazar, eram precisos três Salazares. Porque o país está tão podre de corrupção, impunidades, bandidagens que eram precisos três Salazares para pôr isto na ordem.”, disse Ventura, numa entrevista motivada pela sua candidatura presidencial.

Antes de invocar a memória do ditador que governou o país durante 34 anos, Ventura justificou a sua descrença no atual regime com a corrupção na política. “Há uma epidemia de corrupção em Portugal, as palavras não são minhas, são de [António] Ramalho Eanes. Nós não combatemos a corrupção dentro do regime em que estamos, francamente. Porque nós temos mais bandidos à solta do que na cadeia. Porque nós temos os políticos todos que foram condenados por corrupção, alguns deles, a ser presidentes de Câmara, ministros, a receber pensões vitalícias. É um ver se te avias, é o bar aberto da República.”

Para fazer face ao problema, defende que é precisa uma “mudança de regime” e “na Constituição“. Depois, desvalorizou a importância dada à Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura do Estado Novo. “Quando dizem ‘ai o [25 de] Abril, ai o regime’… Acha que isso diz alguma coisa às pessoas?” Face à insistência da jornalista sobre os passos necessários para implementar a “Quarta República”, Ventura voltou a não explicar como o fará, nem de que maneira ser eleito Presidente da República pode ajudar a executar esse compromisso. “Nós precisamos de outro regime, não é uma questão de retórica”, garantiu apenas.

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