Numa iniciativa mais recente, Donald Trump está a ponderar aumentar a importação de carne de vaca argentina nos Estados Unidos. A medida não está a ser bem recebida pela indústria pecuária norte-americana, que teme prejuízos e concorrência desleal. Curiosamente, neste assunto, as palavras do Presidente norte-americana acabaram por prejudicar Javier Milei na reta final da campanha das legislativas.

Questionado na segunda-feira a bordo do Air Force One sobre o motivo para os Estados Unidos avançarem com a compra de carne bovina da Argentina, o chefe de Estado afirmou que os argentinos “estão a lutar pelas suas vidas”. “Eles não têm dinheiro. Eles estão a lutar tanto para sobreviver. Eles estão a morrer“, afirmou. As palavras foram usadas como uma arma de arremesso contra a presidência, expondo que até o seu principal aliado reconhece as dificuldades económicas que o país atravessa.

Apesar do tom condescendente usado por Donald Trump, Javier Milei ainda pode vender a ideia de que é alguém pró-ativo em busca de soluções para a Argentina. Em sentido inverso, a oposição tem acusado a presidência de se submeter aos Estados Unidos. E deseja explorar a reputação negativa de Donald Trump na América Latina para demonstrar que o apoio financeiro é uma forma de chantagem política.

Apesar de reconhecer que é “bom” para a economia argentina, Luis Schenoni avisa que o empréstimo de 20 mil milhões de dólares é “mau” para a imagem pública de Javier Milei, precisamente porque Donald Trump “tem uma reputação mais negativa do que positiva” na região. Ainda que a Argentina não seja um dos países mais anti-americanos no continente, existe alguma apreensão de que poderá fazer ricochete e prejudicar a campanha para estas legislativas.

No entanto, Schenoni não partilha a opinião de que Donald Trump será um ativo tóxico nestas legislativas. “No geral, as pessoas votam com o bolso e temas como a economia e a segurança são mais importantes do que a política externa”, argumenta o especialista, que destaca que o “balanço” do empréstimo “é positivo se alcançar o objetivo esperado de fortalecer o peso” argentino. O eleitor médio argentino deseja manter a estabilidade económica — e Javier Milei pode argumentar que tem a solução para isso com o empréstimo norte-americano.

Se o partido de Javier Milei perder as eleições ou obter um resultado razoável nestas legislativas, Donald Trump deverá retirar o apoio, como já ameaçou. Essa hipótese ainda traria mais complicações para os próximos dois anos de mandato do Presidente argentino, que perderia — talvez de forma definitiva — o apoio de Washington para avançar com as reformas económicas que prometeu.