Reagan White House Photographs / Wikipedia

O presidente Ronald Reagan a segurar um bloco de 2 kg de “queijo do governo” em 1981

Um verdadeiro tesouro de cerca de 635 milhões de quilogramas de queijo encontra-se a algumas centenas de metros de profundidade nos Estados Unidos, guardado pelo governo. Mas porquê? Bem, a história é longa.

As origens peculiares do chamado “Queijo do Governo”, como lhe chama o Farmlink Project, remontam à década de 1970, quando a escassez de produtos lácteos e uma inflação de 30% nos produtos associados provocaram uma espécie de corrida ao ouro do queijo por parte do governo americano.

Sob a presidência de Jimmy Carter, os Estados Unidos decidiram que a única forma de resolver a questão seria dar um impulso financeiro à indústria de laticínios do país e estimular a produção.

O problema é que, como se diz, quando se pede, recebe-se.

A generosa injeção de 2 mil milhões de dólares em fundos federais funcionou — talvez até demasiado bem. Os produtores de leite começaram a produzir tanto quanto podiam, confiantes de que qualquer excesso seria comprado pelo governo norte-americano.

O queijo tornou-se particularmente interessante por ser mais fácil de armazenar e, no início da década de 1980, o governo viu-se com cerca de 227 milhões de kg em excesso, explica o IFLS.

Os grandes excedentes de produtos lácteos foram então armazenados em mais de 150 armazéns distribuídos por 35 estados, escreve o antropólogo Bradley N. Jones no seu livro “The Oxford Companion to Cheese“, e não demorou muito até que a imprensa se deparasse com um escândalo.

Numa altura em que muitas famílias dependiam de vales-alimentação, havia montanhas de produtos lácteos por consumir que começavam a estragar-se.

O sabor amargo deixado na boca dos americanos seria, entretanto, atenuado quando o Special Dairy Distribution Program, implementado pelo presidente Ronald Reagan, distribuiu 14 milhões de kg de queijo para organizações sem fins lucrativos.

Apesar de grande parte do queijo distribuído estar já com bolor, foi entregue a pessoas necessitadas.

A solução estava longe de ser ideal, não apenas pela questionável aptidão do queijo para consumo humano, mas também porque começou a perturbar as vendas da própria indústria que o produzia.

Ainda assim, era, provavelmente, uma solução mais sensata do que a sugerida por um funcionário do governo ao The Washington Post: “provavelmente a forma mais barata e prática seria deitá-lo ao mar”.

Em vez disso, o queijo tornou-se um símbolo de condição socioeconómica, à medida que famílias sob pressão financeira aproveitavam os produtos lácteos fatiáveis e de fácil fusão para preparar macarrão com queijo ou sanduíches grelhadas.

O governo só abandonou o negócio do queijo na década de 1990, mas essa não seria a última vez que o queijo seria propriedade estatal.

Em 2016, o armazenamento de queijo recomeçou, e o governo acumulou mais de 600 milhões de quilogramas de queijo excedente, que estão guardados centenas de metros abaixo do solo, em antigas minas de calcário convertidas em “cavernas de queijo”.

Uma investigação do Snopes sobre estas cavernas concluiu que elas realmente existem, mesmo que não seja totalmente claro onde se encontram exatamente.

Mas há método nesta loucura: as temperaturas estáveis e frescas das cavernas mantêm o queijo em boas condições. Embora atrase a degradação por algum tempo, as cavernas exigem manutenção, e o escoamento do excedente parece ser mais complicado num país onde o consumo de produtos lácteos está a cair.

E a determinação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em manter os americanos a consumir queijo ficou patente em 2010, quando o governo ofereceu uma parte das suas reservas para salvar a empresa de pizzas Domino’s, então em dificuldades — garantindo que o país continuasse a comer queijo.


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