Teresa Suarez / EPA

“Se tivesse sentido que França era segura para mim, nunca teria regressado ao Reino Unido”. O esquema de Starmer e Macron funciona?

Um homem que tinha sido enviado para França ao abrigo do acordo “um entra, um sai”, estabelecido entre Londres e Paris, regressou recentemente ao Reino Unido numa pequena embarcação. Alega ser vítima de “escravatura moderna” por parte de redes de contrabando do norte de França.

Segundo o jornal britânico The Guardian, o homem, que pretende solicitar asilo no Reino Unido, fez uma nova travessia do Canal da Mancha depois de afirmar que foi explorado e ameaçado pelos traficantes franceses.

Antes de mais: o que é isto do “um entra, um sai”, um acordo “histórico”, na perspetiva de Keir Starmer e Emmanuel Macron?

O acordo, firmado em julho entre os dois países, prevê que migrantes sem documentação legal que entrem ilegalmente em território britânico possam ser reenviados para França, em troca de requerentes de asilo com ligação ao Reino Unido que nunca tenham cruzado o Canal. As autoridades britânicas detêm migrantes que cheguem em pequenas embarcações e enviam-nos para França; em contrapartida, o Reino Unido admite requerentes de asilo provenientes da França que não tenham tentado atravessar o Canal ilegalmente e que possam comprovar laços familiares no país.

O primeiro repatriamento ocorreu em setembro. Os migrantes intercetados no Canal têm supostamente as suas impressões biométricas recolhidas no centro de imigração de Manston. Os que são considerados elegíveis para o esquema são detidos, com os seus pedidos declarados inadmissíveis no Reino Unido, com base na chegada a partir de um país seguro.

“Forçado a trabalhar, agredido, ameaçado de morte”

“Se tivesse sentido que França era segura para mim, nunca teria regressado ao Reino Unido”, disse o homem ao jornal britânico.

“Os contrabandistas são muito perigosos, andam sempre armados. Cai numa armadilha de uma rede de tráfico humano nas florestas de França antes da primeira travessia. Fui forçado a trabalhar, agredido e ameaçado de morte com uma arma”, revela o mesmo homem.

No início de outubro, um grupo de 25 requerentes de asilo devolvidos a França no âmbito do mesmo acordo divulgou uma declaração conjunta a alertar para as “condições extremamente difíceis e inseguras” em que vivem.

O Ministério do Interior britânico confirmou no passado domingo que 16 migrantes que tinham chegado ao Reino Unido em pequenas embarcações foram reenviados para França na semana anterior, elevando o total de devoluções para 42. Em contrapartida, 23 requerentes de asilo com ligação ao Reino Unido foram transferidos de França para solo britânico desde o início do programa.

Um porta-voz do ministério sublinhou que o governo “não tolerará abusos das fronteiras” e garantiu que serão tomadas medidas para “remover todos os que não tenham direito legal a permanecer no país”. Mas até agora, não parece ter sido encontrada uma solução eficaz para o controverso esquema.


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