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O presidente da China, Xi Jinping
Xi Jinping parece acreditar que apenas a sua continuidade à frente dos destinos da China pode assegurar a prosperidade do país e sua consolidação como maior superpotência económica e militar. Mas à medida que envelhece, escolher um sucessor tornar-se-á mais arriscado e difícil.
Enquanto os principais dirigentes chineses se reuniam à porta fechada em Pequim, na semana que passou, para traçar o rumo estratégico da nação, uma questão crítica não verbalizada pairava sobre os trabalhos: quem vai suceder a Xi Jinping — e quando?
Após 13 anos no poder, o presidente da China consolidou uma autoridade a níveis que não eram vistos desde Mao Tsé-tung. Contudo, a sua relutância em designar um sucessor cria uma incerteza crescente sobre o futuro político do país, nota o The New York Times.
Aos 72 anos, Xi enfrenta o dilema clássico do autocrata. Nomear um sucessor arrisca criar um centro de poder rival que poderia minar a sua actual dominância, enquanto falhar no estabelecimento de planos claros de sucessão ameaça o seu legado e poderia desestabilizar a elite política chinesa.
Este equilíbrio delicado torna-se cada vez mais precário à medida que Xi envelhece e o grupo de herdeiros adequados se estreita.
A abordagem de Xi à sucessão reflcte a sua profunda desconfiança em relação aos rivais políticos e a sua convicção de que apenas a continuidade da sua liderança pode assegurar a ascensão da China como superpotência global.
Xi eliminou sistematicamente os limites de mandatos e rodeou-se de aliados leais, removendo efetivamente os mecanismos de transição estabelecidos pelos líderes anteriores.
Esta consolidação de poder, embora tenha fortalecido a sua posição imediata, complica o planeamento a longo prazo para a transição de liderança da China.
O actual Comité Permanente do Politburo, o órgão de sete membros no topo do poder chinês, é constituído inteiramente por aliados de longa data de Xi, que têm agora 60 anos ou mais.
Esta realidade demográfica torna-os candidatos improváveis à sucessão, uma vez que seriam demasiado avançados em idade para liderar a China nas próximas décadas.
O próprio Xi tinha 54 anos quando ingressou no Comité Permanente em 2007, uma promoção que sinalizou claramente o seu estatuto de herdeiro aparente.
A abordagem de Xi à sucessão é fortemente influenciada por precedentes históricos que ele vê como exemplos a evitar.
O presidente chinês criticou explicitamente a escolha da União Soviética de Mikhail Gorbachev como sucessor, tendo argumentando que selecionar um reformador levou diretamente à dissolução da URSS.
Esta perspetiva molda a insistência de Xi de que qualquer futuro líder deve demonstrar lealdade inabalável às suas políticas e enquadramento ideológico.
A história pessoal de Xi também contextualiza a sua abordagem cautelosa. O seu pai, um alto dirigente do Partido Comunista, foi purgado por Mao, e o líder chinês testemunhou em primeira mão a forma como as divisões na liderança durante os protestos pró-democracia de 1989 contribuíram para a convulsão política.
Estas experiências reforçaram a sua convicção de que o planeamento da sucessão requer extremo cuidado para evitar desestabilizar a unidade do partido.
A intolerância de Xi à deslealdade foi demonstrada recentemente quando os militares anunciaram a expulsão de nove oficiais superiores que enfrentam acusações de corrupção e abuso de poder, enviando uma mensagem clara sobre as consequências de desafiar a sua autoridade.
Uma vez que Xi, que até acredita que poderia ser imortal, provavelmente vai cumprir pelo menos mais um mandato completo, a partir de 2027, o seu eventual sucessor será provavelmente um dirigente nascido na década de 1970, que estará atualmente na administração regional ou em agências do governo central.
Contudo, identificar e preparar tais candidatos apresenta desafios significativos. Estes dirigentes mais novos devem provar a sua capacidade, enquanto evitam qualquer aparência de ambição que possa ameaçar a posição actual de Xi.
O fosso geracional entre Xi e os potenciais sucessores cria complicações adicionais. Como notam os especialistas, a desconfiança de Xi estende-se particularmente a dirigentes com quem tem apenas relações indiretas.
Este ceticismo em relação às gerações mais novas, combinado com a sua ênfase no teste de lealdade através de dificuldades e responsabilidade, estreita o campo de candidatos viáveis.
A incerteza prolongada poderia levar à intensificação de manobras nos bastidores entre o círculo íntimo de Xi, à medida que os dirigentes se posicionam a si próprios e aos seus protegidos para um potencial avanço.
Estas dinâmicas arriscam vir a criar a própria instabilidade política que a abordagem centralizada de Xi visa prevenir.
À medida que a China continua a sua ascensão como potência global, a resolução do dilema de sucessão de Xi Jinping revelar-se-á crucial não apenas para a estabilidade do Partido Comunista mas para a própria ordem internacional.
Assim, uma questão permanece: irá Xi conseguir navegar com sucesso este desafio, e manter o controlo que considera essencial para a ascendência continuada da China?