Quão perto estaremos de uma terceira guerra mundial? Quantas vezes temeu o fim do mundo? As questões são legítimas, sobretudo num contexto de crescente tensão em vários pontos do globo. A série espanhola “Refúgio atómico”, que chegou à Netflix há pouco mais de um mês para fazer disparar os níveis de ansiedade dos espectadores, parte exatamente desta premissa de caos, trazendo à tona uma forte sátira social.
Ao longo de oito episódios, os criadores da famosa “Casa de Papel”, Álex Pina e Esther Martínez Lobato, apresentam-nos uma solução de sobrevivência que não está acessível a todos. Trata-se do bunker mais exclusivo do Mundo, o “Kimera Underground Park”, construído ao longo de sete anos nas entranhas da terra. Numa luta desigual pela sobrevivência, só os milionários conseguem assegurar o passaporte dourado para um reino de privilégio, a 275 metros de profundidade. À catástrofe junta-se, assim, o dinheiro, o segredo e, claro está, a podridão.
Sem escapatória possível, duas famílias rivais acabam encerradas no Kimera e não há spa, ginásio, jardim zen ou restaurante que lhes consiga acalmar a acidez de décadas de mentira e hipocrisia. “Presos” num bunker cuja localização é absolutamente secreta, sem telemóveis e sem bens materiais, todos eles são apenas seres humanos a lutar pela sobrevivência.
Destaque para as personagens interpretadas por Pau Simón, Joaquín Furriel, Alícia Falcó e a brilhante Miren Ibarguren. O momento tecnológico retratado na série, a tirar partido das potencialidades da inteligência artificial, torna a produção ainda mais assustadora. E claro que, num momento de juízo final, também há laços criados onde menos se espera. A grande questão é saber se realmente podemos acreditar em tudo aquilo que vemos. Mais perigosa do que a ambição de um milionário é a ambição quem faz tudo para enriquecer.