Representação de Olympus Mons, a montanha mais alta dos planetas do Sistema Solar.
Pedro de la Fuente Meteored Espanha 26/10/2025 07:03 4 min
Durante décadas, os cientistas debateram a origem do gelo que cobre parte da superfície marciana. As teorias mais aceites apontavam para uma origem atmosférica: ciclos de arrefecimento que aprisionaram vapor de água nos polos.
No entanto, um estudo publicado recentemente por geólogos e astrofísicos na revista Nature propõe um cenário muito diferente: grande parte desse gelo poderá ter-se formado a partir do vapor libertado por grandes erupções vulcânicas ocorridas há milhões de anos.
O importante papel dos vulcões marcianos
Marte é um planeta de contrastes extremos. Por exemplo, a sua superfície abriga o maior vulcão do Sistema Solar, o Olympus Mons, com quase 22 quilómetros de altura.
The highest mountain in the solar system, Olympus Mons on Mars, has a height of approximately 22 kilometers (13.6 miles) above the surrounding plains.
This colossal shield volcano dwarfs Earth’s tallest peak, Mount Everest, which rises only about 8.8 kilometers above sea level. pic.twitter.com/Q9OjZARF39— Black Hole (@konstructivizm) October 22, 2025
Segundo os autores do estudo, essas erupções expeliram enormes quantidades de vapor de água e dióxido de carbono para a atmosfera. Sob as condições frias do Planeta Vermelho, esse vapor ter-se-ia condensado e depositado-se como gelo, criando vastos glaciares que ainda existem nas regiões polares e no subsolo.
Os investigadores usaram modelos climáticos e simulações geoquímicas avançadas para demonstrar que gases vulcânicos poderiam ter originado nuvens de vapor capazes de formar camadas de gelo com vários metros de espessura, especialmente nas altas altitudes do hemisfério norte marciano.
Uma assinatura química distinta
Uma das descobertas mais interessantes do estudo é que o gelo analisado mostra uma proporção diferente de isótopos de oxigénio e deutério do que o esperado se a água se tivesse originado apenas de processos atmosféricos.
“Isto sugere que uma fração significativa da água congelada atual em Marte pode ter sido libertada diretamente do interior do planeta” – explica Yuki Tanaka, geoquímico da Universidade de Tóquio e coautor do estudo.
Esta assinatura isotópica, no entanto, coincide com aquela observada em depósitos minerais vulcânicos conhecidos por se formarem a partir de vapor magmático.
Implicações para a busca de vida e missões futuras
A descoberta tem implicações que vão muito além da geologia, porque se o gelo em Marte é de origem vulcânica, isto implica que em algum momento houve uma interação intensa entre calor, água e minerais — os três ingredientes fundamentais para a vida.
Explosive volcanic eruptions on early Mars may have transported water ice to equatorial regions, according to a modelling study in @NatureComms. https://t.co/kdcM9nkFPL pic.twitter.com/yFW1r9qBGd
— Nature Portfolio (@NaturePortfolio) October 18, 2025
Além disso, esta teoria pode ser fundamental para futuras missões tripuladas ao Planeta Vermelho. Saber onde o gelo se formou e que tipo de água contém permitir-nos-á selecionar os locais mais seguros e produtivos para extrair água para consumo, produzir oxigénio ou fabricar combustível.
As agências espaciais NASA (americana) e a ESA (europeia) já manifestaram interesse em incorporar estes resultados no planeamento das missões Mars Sample Return e ExoMars, que buscam analisar amostras do subsolo marciano em laboratórios terrestres.
Referência da notícia
Precipitation induced by explosive volcanism on Mars and its implications for unexpected equatorial ice. 14 de outubro, 2025. Hamid, et al.