Um novo exame de sangue capaz de detectar o Alzheimer com mais de 90% de precisão foi testado com sucesso no Brasil, marcando um avanço promissor no diagnóstico precoce da doença neurodegenerativa.

Desenvolvido pela empresa norte-americana Quanterix e avaliado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o teste mostrou resultados equivalentes aos de exames invasivos e de alto custo, como o de líquor e o PET-CT cerebral.

A pesquisa, publicada na revista científica Molecular Psychiatry, contou com apoio do Instituto Serrapilheira e representa um passo importante no uso de biomarcadores, substâncias detectáveis no sangue que ajudam a identificar alterações cerebrais típicas do Alzheimer.

 

Um novo paradigma no diagnóstico

O estudo avaliou 59 pacientes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, comparando os resultados do novo teste com os métodos já consagrados. O exame analisa a proteína p-tau217, que está relacionada ao acúmulo de tau no cérebro, uma das principais características da doença.

Os resultados foram impressionantes: a proteína foi capaz de distinguir pacientes com e sem Alzheimer com acurácia entre 94% e 96%, desempenho similar ao dos exames de líquor (considerados o padrão-ouro) e muito superior ao de avaliações clínicas isoladas.

Para o Pós PhD em neurociências, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a descoberta pode transformar a forma como a doença é identificada.

“O grande desafio no Alzheimer é o diagnóstico precoce. Quando conseguimos detectar alterações neurodegenerativas antes do comprometimento cognitivo avançar, temos uma chance real de intervir com mais eficácia”.

“Esse tipo de tecnologia pode mudar o paradigma clínico, permitindo monitorar o cérebro como monitoramos outros órgãos do corpo”, complementa.

 

Menos invasivo e mais acessível

Enquanto o exame de líquor exige uma punção lombar e o PET-CT cerebral pode custar até R$ 10 mil, o novo exame de sangue utiliza apenas uma amostra simples de plasma e equipamentos ultra-sensíveis, sendo cerca de dez vezes mais barato.

Além do custo, outro diferencial é a inclusão de pacientes brasileiros de baixa escolaridade, um grupo muitas vezes ausente em pesquisas internacionais, mas essencial para validar a eficácia do teste em populações diversas.

Segundo o estudo, a simplicidade do exame pode torná-lo uma alternativa viável para ampliar o acesso ao diagnóstico precoce no Brasil, inclusive em redes públicas de saúde, caso seja aprovado futuramente pela Anvisa.

 

Próximos passos da pesquisa

O grupo da UFRGS coordena agora a Iniciativa Brasileira de Biomarcadores para Doenças Neurodegenerativas (IB-BioNeuro), que pretende testar a tecnologia em 3 mil voluntários de dez cidades do Rio Grande do Sul.

Com investimento de aproximadamente R$ 20 milhões, o projeto conta com apoio de instituições como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Finep e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

A pesquisa deve durar 24 meses, período necessário para avaliar o desempenho do exame em larga escala e confirmar sua aplicabilidade clínica.

Para Fabiano de Abreu Agrela, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Relatório Genético GIP, que avalia através da análise dos genes características como longevidade e predisposição a doenças, como o Alzheimer, esse é um momento histórico para a neurociência brasileira.

“Estamos caminhando para uma era em que o cérebro poderá ser avaliado de forma rápida, segura e acessível, o que representa um salto na saúde pública e na qualidade de vida da população”, conclui.