“Vamos reconhecer o nosso fracasso”, admite António Guterres na única entrevista que vai dar antes da COP30 (a partir de 10 de novembro).
Ao jornal Guardian e à organização de notícias Sumaúma, sediada na Amazónia, o secretário-geral da ONU reconhece “que não conseguimos evitar um aumento acima de 1,5°C nos próximos anos”.

Foto: Mateus Bonomi – Reuters

“Ultrapassar 1,5 °C tem consequências devastadoras. Algumas dessas consequências devastadoras são pontos de inflexão, seja na Amazónia, na Gronelândia, na Antártida ocidental ou nos recifes de coral”, avisa Guterres.


“Não queremos ver a Amazónia como uma savana. Mas este é um verdadeiro risco se não mudarmos de rumo e se não reduzirmos drasticamente as emissões o mais rápido possível.”




A última década fica registada como a mais quente desde que há registo. No entanto, nem um terço das nações do mundo (62 de 197) enviou os seus planos de ação climática, conhecidos como contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) ao abrigo do Acordo de Paris.

Os EUA, sob a liderança de Donald Trump, abandonaram o processo. A Europa prometeu, mas até agora não cumpriu. A China, o maior emissor mundial, foi acusada de não assumir compromissos suficientes.

O secretário-geral da ONU pede também que as comunidades indígenas passem a ter maior presença e influência na COP30 do que as pessoas pagas pelas empresas. “Todos sabemos o que os lobistas querem”, afirma Guterres. Os lobistas querem “é aumentar os seus lucros, com o preço a ser pago pela humanidade”.
Foto: Mateus Bonomi – Reuters


“É fundamental investir naqueles que são os melhores guardiões da natureza. E os melhores guardiões da natureza são precisamente as comunidades indígenas”, defende o secretário-geral da ONU.




Esta foi a primeira vez que o secretário-geral concedeu uma entrevista exclusiva a um jornalista de uma comunidade indígena, Wajã Xipai, repórter da Sumaúma do povo Xipai, que se juntou ao Guardian.

Numa altura em que 2026 vai ser o último ano de António Guterres como secretário-geral da ONU, ele admite que gostaria de se ter concentrado no clima e na natureza mais cedo, embora agora seja uma prioridade. 


O secretário-geral das Nações Unidas pede aos líderes que se vão reunir na COP30 que não adiem por mais tempo o corte nas emissões de gases com efeito de estufa. 


A COP30, cimeira do clima, vai decorrer no Brasil, de 10 a 21 de novembro.