O Departamento de Energia dos Estados Unidos da América (EUA) está a oferecer 19 toneladas métricas de plutónio para uso militar a empresas que desenvolvem combustível nuclear avançado.
Conforme avançado pelo Financial Times, os EUA estão a abrir parte do seu stock da Guerra Fria, convidando empresas a submeterem uma candidatura e a habilitarem-se a receber até 19 toneladas métricas de plutónio para uso militar, anteriormente usado em bombas.
Esta iniciativa foca-se em empresas que constroem reatores rápidos e projetos modulares pequenos, capazes de reciclar combustível usado e operar com mais eficiência do que as centrais nucleares convencionais.
O objetivo passa por ajudar a reduzir a dependência do urânio russo e acelerar o desenvolvimento de reatores nucleares de última geração.
EUA querem fortalecer independência energética
A iniciativa integra um esforço mais amplo do Presidente Donald Trump, que tem procurado fortalecer a independência energética dos EUA e revitalizar o setor nuclear doméstico, à medida que a procura por eletricidade aumenta consideravelmente e a política industrial exige novas abordagens.
Conforme notado, a maioria dos projetos de reatores avançados em desenvolvimento nos EUA depende de urânio enriquecido de alta concentração (em inglês, HALEU – High-Assay Low-Enriched Uranium), um combustível enriquecido entre 5% e 20% de urânio-235.
Atualmente, a Rússia controla a maioria da produção à escala comercial, deixando os EUA sem fornecimento doméstico.
Embora o país tenha proibido as importações de produtos de urânio russo, em 2024, a produção doméstica continua insignificante: menos de uma tonelada métrica por ano, de acordo com dados do Departamento de Energia.
Neste momento, sabe-se que a startup Oklo, sediada na Califórnia e apoiada pelo diretor-executivo da OpenAI, Sam Altman, e a empresa nuclear francesa Newcleo estão entre as primeiras candidatas a solicitar acesso ao excedente de plutónio.
Com as 92.000 toneladas de combustível usado que os EUA têm, eles poderiam ter 100 anos de independência energética.
Disse Stefano Buono, fundador e diretor-executivo da Oklo.
As empresas devem apresentar planos detalhados para a reciclagem, processamento e fabrico de combustível derivado do plutónio.
Na semana passada, o Departamento de Energia dos EUA informou que planeia selecionar o primeiro grupo de beneficiários até ao final de dezembro, com possíveis concessões adicionais posteriormente.
Críticos da iniciativa nuclear alertam para riscos de segurança
A menos que se tenha garantias de que o protegerão como se fosse uma arma nuclear, isso aumentará a vulnerabilidade ao roubo.
Disse Edwin Lyman, físico da Union of Concerned Scientists, ao Financial Times, alertando que a reutilização do plutónio para fins comerciais acarreta sérios riscos de proliferação e segurança.
Além disso, apesar do otimismo entre as startups de reatores nucleares, iniciativas semelhantes já fracassaram no passado.
Em 2018, o Governo federal abandonou um plano de usar plutónio para combustível nuclear civil devido ao aumento dos custos associados à conversão de material de grau militar em combustível utilizável.
Para já, contudo, ainda não é claro se o Governo dos EUA tem autoridade legal para distribuir plutónio do stock nacional, uma vez que é o Congresso que supervisiona a política de resíduos nucleares do país.


