
Geert Wilders, líder do PVV
Henri Bontenbal, de quase desconhecido a quase vencedor das eleições. Mas a “maldição do Messias” estará de volta.
A próxima quarta-feira, dia 29 de Outubro, é dia de eleições nos Países Baixos.
Este acto eleitoral seria apenas em 2028 mas, em Junho deste ano, o Governo caiu, devido à saída do PVV (Partido da Liberdade), o maior partido da coligação. Houve desavenças em relação à imigração.
As últimas eleições, em 2023, foram ganhas precisamente pelo PVV, um partido anti-islamita, anti-imigração e anti-Europa. Ganhou com margem confortável, em quase todas as regiões, mas boa parte do país ficou em choque.
Foi um castigo para conservadores, democratas-cristãos e liberais que governaram sob o primeiro-ministro anterior, Mark Rutte – agora secretário-geral da NATO.
No entanto, e como se esperava, o populista Geert Wilders, líder do PVV, não conseguiu ser primeiro-ministro. Aliás, nem integrou o Governo formado no ano passado. Nenhum dos outros principais partidos aceitava integrar um Governo com Wilders.
O primeiro-ministro passou a ser Dick Schoof, um independente e antigo chefe dos serviços secretos dos Países Baixos.
Até que, por causa do PVV, o Governo caiu há quatro meses e foram convocadas novas eleições.
“Decente”
Chegou a vez de Henri Bontenbal. Ou não.
O seu partido, o Partido Democrata Cristão (CDA) tem – ou tinha – grandes probabilidades de nomear o próximo primeiro-ministro dos Países Baixos: Henri Bontenbal.
Henri estudou física, especializou-se em transição energética, trabalhou para uma operadora de rede eléctrica e fez da política climática o seu principal foco.
Agora, o clima não é o foco: o líder do CDA fala sobretudo sobre habitação, imigração e saúde (parece outro país europeu, mais a Ocidente).
Henri Bontenbal já é deputado. Foi um dos 5 deputados que o CDA conseguiu há dois anos.
Então como é que um partido que conseguiu 5 deputados agora aparece praticamente empatado com o PVV nas sondagens?
Aliás, Henri Bontenbal é de longe o candidato mais adequado para primeiro-ministro, de acordo com uma sondagem divulgada pela AVROTROS.
Como é que isso aconteceu? Através do anti-populismo, da “decência”, até da caridade.
O Handelsblatt foi explorar o fenómeno, este estilo político “fatsoenlijk”, ou seja, “decente”.
Henri Bontenbal tenta protagonizar uma campanha eleitoral decente. Mantém-se calmo, percebe que o povo holandês já não quer duras batalhas políticas, provocam-no em palco ou em debates e não reage.
“A liberdade não vem de graça”, vai comentando, enquanto anuncia que quer aumentar ligeiramente o IVA para cobrir um orçamento de defesa mais elevado. Quer também aumentar os impostos para a saúde, entre outras “decisões dolorosas”.
Henri e os seus sete irmãos cresceram num lar protestante, em Roterdão – uma cidade que muitos no país associam a pessoas trabalhadoras e realistas. E os eleitores de centro-direita gostam.
EPA

Henri Bontenbal, líder do CDA
“Uma sopa para si”
Em Veenendaal, onde cristãos devotos são uma parte importante da população, as igrejas ficam cheias a cada domingo e os salões enchem-se quando há…debate entre políticos.
Em frente a um desses salões, numa carrinha que faz campanha eleitoral, lê-se num cartaz: “Levantamo-nos para preservar a criação”. Uma jovem, junto à entrada, diz: “Temos uma sopa para si e para os seus entes queridos”.
Há três partidos religiosos a participar no debate: CDA, União Cristã e Partido Reformista Político. Os bilhetes esgotaram rapidamente. Não há lugares para tantos interessados.
“Maldição do Messias”
A questão é que, nos Países Baixos, instalou-se uma espécie de “maldição do Messias”.
Ou seja, ao longo das últimas décadas, sempre que parecia que vinha aí algum político que ia ser o “salvador da pátria”, fracassou. Claramente.
Caroline van der Plas, líder do populista Partido dos Agricultores, é o exemplo mais recente: os habitantes em zonas rurais colocavam-na num altar mas agora Plas nem sabe se vai conseguir lugar no Parlamento (conseguiu 7 nas eleições há dois anos).
E parece que a maldição já surgiu antes das eleições.
A frase
A pouca experiência política de Henri Bontenbal pode ter sido essencial para o que lhe aconteceu na semana passada.
Numa entrevista no canal NOS, o candidato a primeiro-ministro viu um vídeo de um antigo aluno de uma escola religiosa que é homossexual; esse antigo aluno revelou que, embora lhe fosse permitido dizer que é homossexual, isso nem sempre era possível na prática. Ou seja, passou por mais dificuldades, por momentos de discriminação, por ser homossexual.
Bontenbal reagiu, dizendo que as escolas têm o direito de permitir que a liberdade constitucional de educação entre em conflito com a proibição da discriminação.
No dia seguinte, tentou suavizar: “Mergulhei nos detalhes técnicos da lei demasiado depressa. A primeira coisa que eu deveria ter dito é o quão horrível é para os jovens passarem por isto. As escolas têm o dever de proporcionar um ambiente seguro; se isto correr mal, a Inspecção de Educação entra em acção”, cita a NPO Radio.
“Eu cometo erros, aquilo não estava certo”, acrescenta o jornal Algemeen Dagblad, que salienta que, agora, o líder dos democratas-cristãos tem de dizer se realmente acha que os homossexuais podem ser eles próprios nos colégios religiosos.
O jornal acrescenta: “Isto prova mais uma vez que os eleitores por vezes só conhecem verdadeiramente os seus líderes partidários nos últimos dias antes das eleições. E então percebem: os partidos cristãos são… cristãos”.
Da Bélgica, o jornal De Morgen avisa que esta correcção de Henri pode ter chegado tarde demais: parecia o vencedor óbvio das eleições mas o seu partido, o CDA, já perdeu 5 lugares nas sondagens.
Henri Bontenbal tem pouco mais de 24 horas para tentar dar a volta.
Nuno Teixeira da Silva, ZAP //