
Meridiano, não de Greenwich, mas sim de Lisboa. I Guerra Mundial, Estado Novo, Cavaco e Guterres. Pôr-do-sol depois das 22h.
Ainda nos estamos a habituar à mudança de hora. Sabemos que vai acontecer no último domingo de Outubro mas, nos primeiros dias (às vezes nas primeiras semanas) depois da alteração de uma hora, a fase é de adaptação.
Mas esta rotina não foi assim durante a maioria dos séculos. Só há pouco mais de 100 anos é que Portugal deixou o Meridiano de Lisboa e adoptou o Meridiano de Greenwich. Foi em 1912, ainda nos primeiros tempos de um país republicano.
Na prática, o que aconteceu nessa altura? Todos os relógios em Portugal foram adiantados 36 minutos e 44 segundos; porque era essa a distância temporal entre a capital de Portugal e a zona inglesa perto de Londres.
Para poupar energia a partir da I Guerra Mundial, lembra a rádio Renascença, o horário de Verão foi adoptado na maioria dos anos até 1930.
Esse horário de Verão foi cancelado no Estado Novo, em 1966. Américo Tomás, presidente da República naquela época, definiu o abandono dessa mudança. Porque devia haver “uma hora única durante todo o ano”. Ao longo de uma década, Portugal teve o mesmo horário de Espanha, França ou Alemanha. Algo que se repetiu com Cavaco Silva, entre 1992 e 1996.
Nesses dois períodos, houve assim um desfasamento de 2 horas e 36 minutos para o seu horário solar natural no Verão – e de 1 hora e 36 minutos de desfasamento no Inverno.
O sol aparecia só depois das 9h da manhã, no Inverno, e só ia embora depois das 22h, no Verão.
“E, faltando a luz solar natural (ao início da manhã), o corpo não acorda”, lembra Rui Agostinho, professor do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
O fuso horário actual está em vigor há praticamente 30 anos, desde 1996, sob o Governo de António Guterres.
O antigo director do Observatório Astronómico de Lisboa considera que, sem “hora de verão”, iriam perder-se “horas de sol” que desapareceriam do final da tarde.
Mas Rui Agostinho diz na Renascença que a mudança de hora que acontece sempre no final de Outubro deveria acontecer em Setembro.
Mudar de hora só em Outubro é “muito complicado”, indica o especialista: “Neste momento (antes da mudança de hora) às 7h da manhã ainda está escuro no céu. Estamos a ter em Outubro aquilo que mais ou menos depois teremos novamente em Dezembro. O amanhecer é extremamente tardio, muito tardio mesmo, e sente-se muito a transição do horário de sexta-feira para o horário de segunda-feira”.
Mudar a hora em setembro seria uma mudança “mais pacífica” devido à temperatura.