Em 2023, por exemplo, Kristof Jacobs recorda que “40% dos eleitores tomaram a decisão de quem iam votar apenas na semana anterior às eleições”. “Isso é muito comum nos Países Baixos”, constatou. Isto significa que, apesar de a vitória do Partido Pela Liberdade ser provável, não é totalmente certo. E a luta pelo segundo lugar será bastante acirrada.

A mensagem de Geert Wilders está particularmente centrada na questão migratória. Sendo o líder com a maior representação parlamentar e num tema que também ganhou tração em várias partes da Europa, o único membro do PVV tem feito campanha em redor deste assunto, que entrou inevitavelmente no debate para estas eleições. E também influenciou o restante panorama político: praticamente todos os partidos centristas defendem que os Países Baixos devem aumentar as restrições e deportar alguns requerentes de asilo, incluindo os trabalhistas de centro-esquerda, como nota o Financial Times.

O Partido Pela Liberdade tem insistido no pacote de medidas que apresentou aos antigos parceiros governamentais, incluindo a polémica medida que proíbe que os Países Baixos recebam mais requerentes de asilo. Este assunto é o principal que mobiliza a sua base eleitoral. Mas há uma alternativa a surgir que defende políticas idênticas: o JA21.

Países Baixos. O partido de um homem só chegou ao poder, mas o líder Wilders tenta controlar o governo de fora

Autointitulando-se como conservadores liberais, o JA21 foi fundado em 2020. Elegeu três deputados nas eleições de 2021, mas ficou como um partido de deputado único dois anos depois. Agora, como mostram as sondagens, deverá ser uma das surpresas, podendo obter um resultado que pode chegar aos 12%. Por um lado, o partido pode ser ser aliado de Geert Wilders no futuro; por outro, acaba por ser uma alternativa no boletim de voto ao Partido Pela Liberdade — e beneficia do facto de manter o brilho antissistema por não ter feito parte de um governo.

[Chegou o histórico debate entre Soares e Freitas. E o socialista já conseguiu o voto dos comunistas sem “olhar para o retrato” dele“Eleição Mais Louca de Sempre” é o novo Podcast Plus do Observador sobre as Presidenciais de 1986. Uma série narrada pelo ator Gonçalo Waddington, com banda sonora original de Samuel Úria. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui e o quarto aqui]

Outro assunto que está a mobilizar os neerlandeses é o preço da habitação. É neste assunto que o Partido do Trabalho e os Verdes, juntamente com outros partidos de esquerda, estão a tentar mobilizar o seu eleitorado. Porém, todos os partidos estão cientes de que têm de apresentar medidas, ainda que discordem sobre o grau de intervenção estatal, consoante a ideologia que defendem.

Geert Wilders aspira ser primeiro-ministro, mas o sistema parlamentar neerlandês vai muito provavelmente impedir que ocupe o cargo no rescaldo das próximas eleições. O líder da direita radical dos Países Baixos está praticamente sozinho. Os partidos de centro e liberais não vão repetir, para já, o “experiência falhada”. O partido que ficar em segundo lugar neste ato eleitoral será aquele que deverá formar governo. Mas o processo negocial promete ser lento.