A prioridade na conferência do clima, a COP30, que se realiza em Novembro em Belém, no Brasil, é reconhecer que falhámos e mudar rapidamente mudar de direcção, defende o secretário-geral das Nações Unidas. “A verdade é que falhámos no esforço de evitar um aquecimento global superior a 1,5 graus nos próximos anos”, afirma António Guterres.

Numa entrevista conjunta ao jornal britânico The Guardian e ao site brasileiro Sumaúma, que se centra na Amazónia, Guterres apresentou as prioridade para a COP30. “É absolutamente indispensável mudar de curso para que ultrapassemos o limiar de 1,5 graus o menos possível, e durante um período curto, para evitar pontos de não retorno, como na Amazónia. Não quero ver a floresta amazónica transformada numa savana”.

A partir de um aquecimento global acima de 1,5 graus (tendo como referência os valores antes da Revolução Industrial, quando começámos a lançar grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases de estufa para a atmosfera), esperam-se consequências devastadoras, sublinha Guterres.


Algumas serão pontos de inflexão climáticos, a partir dos quais se alteram radicalmente alguns ambientes – como a Amazónia tornar-se savana. O primeiro desses pontos de não retorno foi já ultrapassado, dizem os cientistas: a morte dos corais tropicais.

“Mas este é um risco real, se não mudarmos o nosso comportamento e reduzirmos de forma drástica as emissões de gases de estufa o mais rapidamente possível”, salienta António Guterres.

É indispensável que se ganhe uma consciência mundial de que as comunidades indígenas são as nossas defensoras da Natureza, as nossas defensoras do planeta



António Guterres



Os últimos dez anos foram os mais quentes desde que se fazem medições. Apesar de um alarme crescente com a rapidez do aumento da temperatura média global, causada em grande parte pela queima de combustíveis fósseis, as nossas emissões de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de estufa, nunca foram tão elevadas.

Enquanto isso, os compromissos dos governos para reduzir as emissões, diz Guterres, estão bem aquém do que seria necessário.

Menos de um terço dos países (62 em 197) enviou os seus planos de acção climática, como deviam fazer este ano, ao abrigo do Acordo de Paris, actualizando os seus compromissos para redução de emissões. E os EUA abandonaram o próprio Acordo de Paris, com a Administração de Donald Trump a querer impulsionar sem freios a exploração de petróleo, carvão e gás natural.

A entrevista foi feita por Jonathan Watts, jornalista do Guardian, e Wajã Xipai, jornalista indígena do Sumaúma. Na versão da entrevista publicada em português, no Sumaúma, o destaque é dado às afirmações de Guterres sobre o papel dos povos indígenas na luta contra o aquecimento global: sem eles, não se consegue evitar a catástrofe climática, afirmou o secretário-geral da ONU.

“É indispensável que se ganhe uma consciência mundial de que as comunidades indígenas são as nossas defensoras da Natureza, as nossas defensoras do planeta. E que as áreas que controlam são as áreas em que mais se garante a biodiversidade e também a absorção do CO2”, defende Guterres.