Leticia H. Pabis

Na sua última passagem pelo Brasil, o iratiense Braian Oliveira concedeu uma entrevista à Folha de Irati e contou como construiu uma carreira que ultrapassou fronteiras. Autodidata, ele iniciou no design gráfico de forma improvisada, quando ainda adolescente recebeu o convite inesperado para criar uma campanha do Dia dos Pais para a loja Nika Griff.

Sem experiência, mas movido pela curiosidade, produziu a primeira arte com poucos recursos, utilizando fotos impressas e recortes manuais. A peça seria publicada na Folha de Irati, o que marcou o início de uma trajetória que, anos depois, o levaria à Europa. “Eu sempre gostei do desafio, fui lá, peguei meu skate, coloquei embaixo do braço desci na loja dela e falei que eu era designer gráfico […] eu aprendi tudo do zero, sozinho, sem ninguém, só vídeo no Youtube, perguntando coisas para as pessoas nos fóruns”, recorda.

O trabalho deu certo. A peça foi publicada e elogiada, rendendo os primeiros convites profissionais. “No outro dia ela me ligou, e eu cobrei 70 centavos dela. Nunca mais vou esquecer na minha vida, foi o que eu gastei na impressão de duas fotos, pra testar tamanho, medir”, conta. A partir dali, Braian começou a se dedicar ao aprendizado das ferramentas digitais. Sem formação acadêmica, aprendeu a editar, diagramar e criar identidades visuais assistindo a tutoriais e pesquisando em fóruns online.

“Não existia rede social na altura, não tinha site, não tinha nada, mas o processo de mudança foi muito fluido, igual está sendo agora. Por exemplo: inteligência artificial. Às vezes as pessoas têm medo disso e para mim, na verdade, é uma ferramenta que só tem a agregar no nosso dia a dia como designer, como criador de conteúdo, como Copyright. Nunca vão acabar essas profissões, sempre vai precisar um temperinho humano para humanizar o negócio, para ficar apelativo”, explica. Essa adaptação o ajudou a expandir o olhar sobre o design, compreendendo que a comunicação visual passava a ser mais imediata e interativa.

Em 2014, Braian decidiu deixar o Brasil e seguir para Portugal para realizar um curso de Brand Design com duração de dois meses, motivado pela vontade de aperfeiçoar seu trabalho. “Voltei para o Brasil e sempre fiquei com aquela pulguinha atrás da orelha de querer voltar para lá, porque eu vi que lá estava muito necessitado de design. Por mais que as pessoas pensem que lá é super evoluído, o Brasil está ‘anos luz’ na frente em publicidade, nosso jeito de comunicar é extremamente agressivo e lá tem o jeitinho deles, e eu achei que o país tinha bastante mercado”, relata. Três anos depois, retornou ao país europeu com o objetivo de se estabelecer profissionalmente.

A adaptação, porém, não foi simples. “Concordo plenamente que o país é extremamente xenofóbico, mas eu uso a xenofobia a meu favor. Quanto mais grossos eles forem comigo, mais gentil eu vou ser com eles. E foi assim que consegui conquistar os meus clientes, os portugueses, os africanos, desse meu jeito, tipo, ‘boa praça’. Eu engulo o sapo dando risada e bola para frente, vamos vencer, vamos fazer o negócio funcionar. Tento mostrar no dia a dia que não importa a nacionalidade, a cor ou a raça. O que importa é o que a pessoa é e o que ela faz ali, na hora”, conta.

Entre os trabalhos mais significativos, o designer destaca campanhas para empresas de aviação e extração de diamantes em Angola, além de projetos para o Instituto Português de Qualidade (IPQ) e para a Secretária-geral da Economia de Portugal, além de designer da Força Aérea Portuguesa. “Eu fui civil da Força Aérea Portuguesa durante seis meses, eu desenhava uma revista que se chamava ‘Mais Alto’. Foi um processo seletivo extremamente pesado por ser autodidata, por ser brasileiro e por não entender nada do avião. Fiquei expert em todas as naves na frota aérea que eles têm”, explica.

Além do design, Braian passou a se dedicar à fotografia imobiliária, identificando um nicho em expansão no mercado português. “Eu vi que as fotos eram todas muito ruins, e aí fui estudar fotografia para ter um diferencial a mais. Além do meu trabalho como designer, consegui extrair o melhor que cada imóvel tem para fazer a publicidade. E, com isso, já atendi três empresas bem legais em Portugal”, afirma.

Atualmente, Braian mescla trabalhos internacionais com empresas locais em seu portfólio. Foto: Arquivo Pessoal/ Divulgação Instagram.

Sobre o processo criativo, ele diz que a inspiração surge de forma espontânea. “Às vezes, o cliente me passa o briefing e eu coloco vinte dias úteis de prazo. Só que, às vezes, você entra no processo criativo e ele simplesmente não vai. Eu acho que é algo muito fluido. Eu deixo fluir. Penso: ‘não dá para fazer agora’, e saio. Vou tomar um sorvete, andar de skate, correr, vejo coisas diferentes, tomo um vinho e daqui a pouco parece que a ideia vem. Aí eu saio correndo para anotar ou, às vezes, acordo de noite com uma ideia e já vou para o computador trabalhar”, comenta.

Atualmente, Braian trabalha com clientes em diferentes países da Europa e da África, conciliando projetos corporativos, institucionais e de conteúdo digital. “Eu me considero um nômade. Se eu ver que tem projetos muito grandes aqui que justifiquem a minha volta, com certeza eu vou voltar, se eu ver que tem projetos muito grandes que justifiquem eu morar em Paris, eu vou morar em Paris. Recentemente, apareceu um projeto e a gente foi gravar conteúdo em Paris para um cliente de Florianópolis, minha namorada como modelo e criadora de conteúdo, e eu como videomaker e diretor da cena”, relata.

Mesmo com a vida estabilizada fora do país, ele afirma que o Brasil segue como referência pessoal e afetiva. “Nós, brasileiros, a gente pode estar com o cartão de crédito estourado, mas tá show de bola, vamos fazer um churrasco, tomar uma cerveja, eu acho que essa é a magia do Brasil. Eu adoro isso. Sinto falta todos os dias da minha vida. Aqui é minha casa, aqui estão meus amigos, minha família, minha filha. Eu adoro o Brasil e nunca vou falar mal do Brasil para ninguém”, diz.