Uma pesquisa testou uma nova abordagem promissora no tratamento da leishmaniose cutânea por meio de um creme para tratar as lesões combinado a imunomoduladores potentes. O trabalho foi publicado no periódico PLOS Neglected Tropical Diseases.

O creme testado é de uso tópico e combina nanopartículas de ouro com uma proteína chamada Sm29, derivada do parasita Schistosoma mansoni. A proteína é conhecida por sua capacidade de modular a inflamação, reduzindo danos teciduais sem comprometer a resposta imunológica contra o parasita.

Os pesquisadores desenvolveram o creme AuNPs-Cys-Sm29 a partir da funcionalização da proteína recombinante Sm29 em nanopartículas de ouro (AuNPs), uma plataforma eficiente para entrega de antígenos e imunomodulação. As nanopartículas ajudam a proteger a proteína da degradação e permitem que o composto seja liberado de forma controlada no local da infecção.

Nos experimentos, camundongos infectados por Leishmania braziliensis foram tratados com o creme de AuNPs-Cys-Sm29, aplicado isoladamente ou em combinação com o tratamento padrão com antimoniais pentavalentes (SbV). O estudo observou que o uso combinado do creme com o antimonial reduziu significativamente a gravidade das lesões, a carga parasitária e o processo inflamatório, em comparação com o tratamento convencional isolado. Além disso, o efeito anti-inflamatório do creme não interferiu na capacidade do organismo de eliminar o parasita.

A equipe também verificou que o tratamento tópico modula a resposta imune, diminuindo a produção de citocinas inflamatórias como IFN-γ, TNF e IL-10. Essa modulação contribui para um processo de cicatrização mais equilibrado e menos destrutivo ao tecido.

Os resultados reforçam o potencial do creme como uma alternativa terapêutica inovadora e segura para a leishmaniose cutânea. De acordo com os autores, essa formulação pode complementar o tratamento padrão, oferecendo uma via mais eficaz e com menos efeitos adversos para os pacientes. O trabalho foi coordenado pela pesquisadora da Fiocruz Bahia Camila Indiani. 

O estudo destaca ainda a importância de novas estratégias combinadas para combater a leishmaniose cutânea, uma doença que continua sendo um desafio de saúde pública no Brasil. A pesquisa aponta que o creme de Sm29 representa um passo importante rumo ao desenvolvimento de terapias tópicas acessíveis e de alta eficácia, merecendo futuras avaliações clínicas em humanos.

A leishmaniose cutânea é uma doença infecciosa agressiva causada pelo protozoário Leishmania braziliensis. A infecção ocorre após a picada de mosquitos infectados e é comum em várias regiões do Brasil e da América Latina. O tratamento mais utilizado é a quimioterapia com antimoniais pentavalentes (SbV), aplicada de forma sistêmica, mas o método tem efeitos colaterais importantes e eficácia variável, o que motiva a busca por novas terapias mais seguras e eficazes.