Segundo um novo estudo, publicado em 29 de setembro na revista PNAS, a Terra está refletindo menos luz solar de volta ao espaço — ou, em outros termos, ficando mais escura.
A pesquisa também indica que o fenômeno é mais concentrado no Hemisfério Norte, que estaria perdendo o brilho mais rapidamente do que o Hemisfério Sul.
O equilíbrio perdido
A descoberta, no entanto, contradiz uma teoria antiga, segundo a qual os dois hemisférios teriam albedo (níveis de reflexão de luz) naturalmente equilibrados.
O que se sabe é que a Terra não absorve toda a luz solar — parte dela é refletida de volta ao espaço. Essa reflexão é essencial para manter o equilíbrio energético do planeta.
Antes, os pesquisadores acreditavam que os hemisférios norte e sul tinham brilhos simétricos, e que essa era uma propriedade estável do planeta.
Hemisfério Norte
O estudo é baseado em mais de duas décadas de observações via satélite. As medições mostraram uma mudança progressiva: ambos os hemisférios estão escurecendo, mas o norte mais rapidamente.
Essa alteração estaria ocorrendo por diversos fatores, entre eles o derretimento de gelo e neve. Com o desaparecimento dessas superfícies claras — que antes refletiam a luz —, os oceanos e solos escuros acabam ficando mais aparentes, conforme repercutido pela revista Smithsonian.
A superfície do Hemisfério Norte está ficando mais escura porque a neve e o gelo estão derretendo. Isso expõe a terra e o oceano por baixo. E a poluição diminuiu em lugares como China, EUA e Europa. Isso significa que há menos aerossóis no ar para refletir a luz solar. No Hemisfério Sul, é o oposto.”, disse Norman Loeb, principal autor do estudo à Eos.
Outros motivos também se destacam, como a redução de poluentes e aerossóis por políticas ambientais em países como China, Estados Unidos e Europa.
Essas medidas diminuíram o uso de partículas que refletiam a luz solar. Além disso, há uma maior presença de vapor d’água na atmosfera, o que faz com que o norte fique mais quente e acumule mais umidade.
Todo esse conjunto contribui para uma menor reflexão e maior absorção de calor, o que gera um efeito de aquecimento reforçado.
Hemisfério Sul e outro aliado
A situação no sul já é diferente, com erupções vulcânicas recentes e os incêndios florestais na Austrália aumentaram os aerossóis atmosféricos, refletindo mais luz. Essa situação, apesar de parecer critica, ajuda o sul a manter seu brilho por mais tempo.
Outro aliado eram as nuvens, que durante anos desempenharam um papel importante nesse equilíbrio, refletindo ou absorvendo luz conforme sua altitude e densidade. Mas, segundo o estudo, essa compensação tem um limite, e talvez as nuvens não consigam mais sustentar a simetria do albedo entre os hemisférios caso o desequilíbrio continue crescendo.
Planeta em desequilíbrio
A pesquisa evidencia que o planeta está mudando até na forma como reflete a luz e o que antes parecia uma simetria natural pode estar se desfazendo diante das transformações climáticas e atmosféricas.
Os cientistas ainda alertam que esse desequilíbrio no brilho não afeta apenas a aparência da Terra, mas pode influenciar desde as correntes oceânicas até os padrões climáticos globais.
O excesso de calor pode alterar dinâmicas atmosféricas e marinhas, com consequências ainda consideradas uma “questão em aberto”.