O Santander em Portugal continua a marcar um desempenho, a nível de lucros, mais negativo em 2025 do que no ano anterior. No conjunto dos primeiros nove meses, o embate da descida das taxas de juro nos créditos foi o motor, pela negativa, que ofuscou totalmente o comportamento positivo de diversos indicadores, desde o aumento das comissões cobradas aos clientes, a descida do risco e a contenção dos custos.

A quebra da margem financeira (o indicador que corresponde, principalmente, à diferença do que o banco recebe com os juros pagos pelos clientes com créditos e o que paga aos depósitos ali aplicados) foi de 17%. Não havia uma quebra tão significativa da margem há mais de uma década.

Mesmo assim, o que o banco ganha com a diferença entre juros pagos e recebidos continua acima dos mil milhões de euros e em linha com a margem dos três primeiros trimestres de 2023 – o problema é mesmo a comparação com o recorde de 2024. Foi uma quebra superior a 200 milhões de euros nesta margem, a principal fonte de receitas dos bancos.

Não é uma surpresa, tendo em conta os ganhos expressivos que os bancos acumularam nos últimos anos com os juros em alta; agora que estão em queda, a descida de resultados era esperada. Mas tem havido bancos que conseguem conter esse efeito; no caso do Santander, já nos anteriores trimestres tinha havido este desempenho.

Com os juros a cederem nos créditos (as taxas de juro vão-se actualizando à medida que chega a maturidade das Euribor indexadas a cada empréstimo), e, apesar da limitada remuneração de depósitos, a margem cede; e só não cedeu mais porque o banco aumentou o volume de crédito. Aumentou em 7% o crédito às famílias (habitação e consumo) e em 11% às empresas.

Este é um embate significativo dos juros que faz com que Portugal tenha tido um dos piores desempenhos, a nível de lucros, nos vários países em que o Santander está presente; pior só Brasil e Argentina. No seu todo, o grupo presidido por Ana Botín registou um crescimento de 11% do lucro para 10,3 mil milhões de euros.

Em Portugal, o lucro do Santander Totta fixou-se em 728,2 milhões de euros entre Janeiro e Setembro, menos 6,4% do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a nota de imprensa divulgada esta quarta-feira, 29 de Outubro. Os indicadores de rendibilidade recuaram, mas continuam em níveis elevados, em linha com 2023.

As comissões subiram 6%, os custos cederam 0,4%, as imparidades e provisões (dinheiro de lado para eventualidades futuras) foram cinco vezes inferiores: tudo desempenhos que só impediram uma quebra mais intensa do lucro, tal a força da quebra da margem.

Balcões fecham e dão lugar a maiores agências

O banco não realizou conferência de imprensa (só o faz semestralmente), mas Pedro Castro e Almeida, que lidera a instituição portuguesa, deixa várias citações na nota de imprensa e uma delas é a apontar para a nova presença física do Santander (tema que tinha falado já em Agosto), que o banco diz fazer parte do novo entendimento do cliente e não uma estratégia de corte de custos.

“Estamos a redefinir o que significa estar próximo. A proximidade já não se mede em quilómetros — mede-se na qualidade da experiência”, escreve Pedro Castro e Almeida, o actual presidente executivo cuja saída é esperada para passar a comandar o risco de todo o grupo (sendo substituído por Isabel Guerreiro).

É para a liderança de Isabel Guerreiro, esperada para arrancar no início do próximo ano, que se prevê a fusão de balcões que venham, em seu resultado, a criar agências de maior dimensão, conhecidas por Work Cafés. O banco prevê abrir mais 25 destas agências alargadas nos próximos dois anos, mas continua sem dizer quantos balcões serão alvo de fusão (com consequente encerramento de um deles). No fim de Setembro, o banco tinha 327 agências, contando com um quadro de 4674 trabalhadores, mais 94 que um ano antes.