O escritor nigeriano Wole Soyinka, laureado com o Prémio Nobel em 1986, afirmou na terça-feira que os Estados Unidos revogaram o seu visto de não imigrante emitido no ano passado e que lhe foi dito para se recandidatar se quisesse tentar visitar os EUA novamente.
O escritor de 91 anos afirmou em 2016 ter rasgado o seu green card dos EUA e renunciado à sua residência americana permanente em protesto contra a primeira eleição do Presidente Donald Trump.
O laureado com o Prémio Nobel tem leccionado regularmente em universidades da Ivy League desde meados da década de 1990, após receber o Prémio Nobel da Literatura.
Na terça-feira, numa conferência de imprensa em Lagos, Soyinka mostrou aos repórteres a cópia de uma carta do Consulado Geral dos Estados Unidos na cidade nigeriana, em que lhe que era requisitado que se deslocasse ao consulado com o seu passaporte para o cancelamento físico do visto.
Na carta, datada de 23 de Outubro, era dito que “informações adicionais se tornaram disponíveis” após a emissão do visto. “Quero garantir ao consulado que estou muito satisfeito com a revogação do meu visto”, disse Soyinka. “É uma carta de amor bastante curiosa, vinda de uma embaixada”, ironizou o Nobel da Literatura.
O autor de Crónicas do Lugar do Povo Mais Feliz da Terra acredita que o cancelamento do seu visto está relacionado com declarações em que comparou Donald Trump a Idi Amin, terceiro presidente do Uganda, que liderou o país entre 1971 e 1979, sendo considerado um dos mais brutais ditadores do continente africano. Soyinka afirma que Trump deveria sentir-se “orgulhoso” com a comparação. “Idi Amin era um homem com estatuto internacional, um estadista, portanto quando chamei Idi Amin a Donald Trump, julguei estar a fazer-lhe um elogio”, afirmou o escritor, citado pelo Guardian. “Ele tem-se comportado com um ditador.”
A Embaixada dos EUA na Nigéria não respondeu a um pedido de comentário.
“Não tenho visto, estou obviamente banido dos Estados Unidos e, se me quiserem ver, sabem onde me encontrar”, disse Soyinka. Está aberto a regressar aos Estados Unidos caso as autoridades do país reconsiderem a posição agora tomada, mas só fará a viagem se for convidado. “Não tomaria eu próprio essa iniciativa porque não há nada lá que eu queira. Nada.” Wole Soyinka critica, em particular, a política de detenção de imigrantes que tem sido seguida pela administração americana. “Quando vemos pessoas a serem detidas nas ruas — pessoas a serem levadas e a desaparecerem por um mês… mulheres idosas, crianças a serem separadas. É isso que realmente me preocupa.”
A Embaixada dos EUA na Nigéria informou em Julho que os nigerianos que desejassem viajar para os EUA com vistos de não imigrante passariam a receber autorizações de entrada única de três meses, revertendo os vistos de múltiplas entradas de até cinco anos de que desfrutavam anteriormente.