Olá, leitores. A crítica desta semana é de “Devastação”, romance do escritor e jornalista José Castello que propõe uma viagem pelo universo subjetivo de uma mulher idosa, na leitura de Ubiratan Brasil. Nos lançamentos, a História da Coreia, textos sobre Mitologia Grega e três novelas de Roniwalter Jatobá. Nos mais vendidos, ‘Melhor do que nos filmes’, de Lynn Painter, lidera entre as obras de ficção. Boa leitura!
‘Devastação’, de José Castello | ótimo
Editora: Arquipélago. Páginas: 128. Preço: R$ 69,90.
Em “Persona”, um dos mais enigmáticos e fascinantes filmes de Ingmar Bergman, Elisabet Vogler é uma atriz de sucesso que de repente trava durante uma apresentação da peça “Electra”. Sem dizer uma palavra, apenas sorri. A situação não melhora nos dias seguintes, quando a artista se isola do mundo, mantendo uma constante mudez. Já em “Feliz aniversário”, conto de Clarice Lispector, uma senhora, Anita, completa 89 anos em raivoso silêncio, cercada de amigos e familiares que despreza por sua falsidade. “Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos fracos, sem austeridade?”, questiona a narradora. A sensação de solidão e falta de afeto genuíno são transparentes nas feições de Anita, que não disfarça seu desprezo e sua amargura por viver aquele momento.
A essas duas obras, junta-se agora o mais recente romance do escritor e jornalista José Castello, “Devastação”, que trilha o mesmo caminho psicológico. Ali, Anita Vogler, outrora uma atriz reconhecida, agora uma mulher doente e idosa, vive em um apartamento de Copacabana presa a uma cadeira de rodas — delicioso entrelaçamento com as obras de Clarice e Bergman. Ao seu redor, apenas pessoas incompetentes: o neto Artur, nerd inveterado; a cuidadora Marly, mulher que não esconde uma eterna tristeza; e o filho Antônio, advogado em crise conjugal que raramente a visita. Para que todos se livrem da responsabilidade de cuidar de Anita, um psiquiatra, dr. Ariosto, é constantemente convocado, mas sua indiferença resulta em indicação de pílulas que só vão dopá-la.
Emocionalmente isolada, a velha senhora luta para manter a lucidez, mas a falta de referências a faz acreditar que a imagem que vê em um espelho é a verdadeira Anita, que teria sido sequestrada e ali aprisionada por pessoas misteriosas. Aquela que habita o apartamento, portanto, é uma habilidosa impostora, que imita com perfeição os gestos da prisioneira. A angústia de Anita está em entender como foi trancafiada dentro de um espelho ao mesmo tempo em que tenta convencer as pessoas que a rodeiam de que estão diante de uma falsária.
Castello constrói habilmente uma trama que se monta como um quebra-cabeça em que as divagações da velha senhora são como peças que se transformam em confissões de segredos ocultos. Por ter sido uma atriz, Anita tenta se convencer de que tudo não passa de uma encenação, com profissionais competentes criando um duplo perfeito. A reflexão em luta contra o reflexo, com Anita buscando diferenças nas imagens de sua face, uma mais envelhecida que a outra.
O que torna a leitura de “Devastação” ainda mais absorvente é que o desmoronamento da vida interior acontece em um momento em que o mundo exterior parece viver o apocalipse. Um violento temporal inunda as ruas do bairro e afeta a iluminação, diminuindo a potência das lâmpadas e obrigando os personagens a se valerem da luz de velas.
A escuridão ganha força com um inesperado eclipse, que não se sabe se verdadeiro ou fruto da alucinação de Anita. E a força da água provoca a invasão de pombos que se alojam na cozinha, enquanto o teto de gesso do corredor despenca. Para completar, o cachorro de uma vizinha aparece morto, esfaqueado na barriga. Toda a ação acontece durante quatro horas, período em que Anita, cercada pela decadência e desagregação, se agarra à própria dor.
As mudanças na sociedade são hoje um desafio para os idosos, obrigados muitas vezes a lidar com a solidão e preocupados com a independência econômica, a saúde, o desfazimento dos laços familiares. E seu mundo interior é normalmente desprezado. “Devastação”, da mesma forma que o conto “Feliz aniversário”, propõe uma viagem pelo universo subjetivo de uma mulher idosa, revelando sua angústia por conviver com familiares que não a amam. O que deveria ser um mundo de aconchego se transforma em uma espécie de prisão domiciliar. E essa angústia é revelada por Castello aos poucos e sem parcimônia, com um bisturi fino que expõe as entranhas da alma.
E, como bem observa Julián Fuks no texto da orelha do livro, se a devastação é ignorada pelos familiares, a literatura vem em seu auxílio “para dar testemunho da dor e da finitude”.
Ubiratan Brasil é jornalista
Autor: Roniwalter Jatobá. Editora: Boitempo. Páginas: 184. Preço: R$ 53.
O volume reúne três novelas de um dos mais experientes escritores do país. “Pássaro selvagem”, “Tiziu” e “Paragens” foram produzidas ao longo de 20 anos. Elas abordam o tema da migração, revelando mazelas de um país marcado por mudanças violentas: do tráfico negreiro às peregrinações cotidianas nas grandes cidades, chegando ao êxodo rural do Norte e Nordeste rumo ao Sul do país.
Autora: Maria Victoria Oliveira. Editora: Lacre. Páginas: 460. Preço: R$ 89.
A narrativa mergulha na complexa história da família Borges, em uma cidade que espelha o interior do Brasil. A trama central gira em torno do coronel Adauto Borges e a mulher, Maria Pia. O casamento deles é abalado pela chegada de Bento, filho ilegítimo do coronel. A trama é marcada por um ato simbólico de ruptura com o passado e celebração das transformações que o tempo impõe.
Autora: Erich Eichner. Editora: Ilustre. Páginas: 84. Preço: R$ 50.
O autor apresenta sua visão criativa e cínica do Rio, que ele deixou para trás ao se mudar para a capital paulista. “Tudo que é abandonado tem como a sua própria forma a vida, e um dia ela vai retornar pra você”, diz. O lançamento de “Linhas cruzadas” e de “Epigrama”, do mesmo autor, será na sexta-feira (8), de 19h às 22h, na Livraria Na Nuvem (Rua Treze de Maio 744, Bela Vista, São Paulo).
‘Filhos do céu e da ursa’
Autora: Emiliano Unzer. Editora: Crítica. Páginas: 344. Preço: R$ 61.
Especialista em Ásia, o historiador oferece um panorama abrangente da trajetória coreana, desde suas origens até o século XX, destacando sua identidade, influências externas e conflitos como a divisão da península após a Guerra da Coreia. É uma narrativa sobre resistência e reinvenção de um país que, entre grandezas e tragédias, superou desafios e se tornou referência no mundo.
‘A nudez de Afrodite’
Autor: Cláudio Moreno. Editora: Difel. Páginas: 190. Preço: R$ 54,90.
Estrela do podcast “Noites Gregas”, um dos mais populares do Brasil, o autor especializado em mitologia greco-romana reúne pequenos textos sobre figuras mitológicas como Páris, Apolo, Teseu e Perséfone, para mostrar que as narrativas com essas personagens lendárias ainda são úteis como alegorias ou ensinamentos sobre problemas da sociedade contemporânea.
- ‘Melhor do que nos filmes’, Lynn Painter (Intrínseca)
- ‘O cara que estou a fim não é um cara?! – Volume 1’, Sumiko Arai (New Pop)
- ‘Jantar secreto’, Raphael Montes (Companhia das Letras)
- ‘O cara que estou a fim não é um cara?! – Volume 2’, Sumiko Arai (New Pop)
- ‘A hipótese do amor’, Ali Hazelwood (Arqueiro)
- ‘A empregada’, Freida McFadden (Arqueiro)
- ‘Verity’, Colleen Hoover (Galera Record)
- ‘Casas estranhas’, Uketsu (Intrínseca)
- ‘Um amor problemático de verão’, Ali Hazelwood (Arqueiro)
- ‘Não é como nos filmes’, Lynn Painter (Intrínseca)
- ‘Do dia para a noite’, Bobbie Goods (Harper Collins)
- ‘Novena e Festa da Padroeira – 2025’, (Santuário)
- ‘Elo Monsters Books’, Enaldinho (Pixel)
- ‘Dias quentes’, Bobbie Goods (Harper Collins)
- ‘Isso e aquilo’, Bobbie Goods (Harper Collins)
- ‘Dias frios’, Bobbie Goods (Harper Collins)
- ‘Café com deus pai 2025’, Junior Rostirola (Vélos)
- ‘Divergente’, Flora Pinheiro (Prumo)
- ‘Os primeiros 50’, Preta Gil (Globo Livros)
- ‘Café com Jesus’, Vinicius Iracet (Citadel)
- ‘Mais esperto que o diabo’, Napoleon Hill (Citadel)
- ‘Mais esperto que o diabo 2’, Napoleon Hill (Citadel)
- ‘O homem que comprou o tempo’, Thiago Nigro (Citadel)
- ‘Quebrando o hábito de ser você mesmo’, Joe Dispenza (Citadel)
- ‘Hábitos atômicos’, James Clear (Alta Life)
- ‘A morte é um dia que vale a pena viver’, Ana Claudia Quintana Arantes (Sextante)
- ‘Como fazer amigos e influenciar pessoas’, Joseph Murphy (BestSeller)
- ‘Minutos de sabedoria’, C. Torres Pastorino (Vozes)
- ‘O poder do subconsciente’, Joseph Murphy (BestSeller)
- ‘As coisas que você só vê quando desacelera’, Haemin (Sextante)
- ‘O diário de uma princesa desastrada’, Maldy Lacerda (Outro Planeta)
- ‘Um intercâmbio quase perfeito’, Mih Tanino (Maquinaria)
- ‘Como desenhar coisas superfofas com Bobbie Goods’, Bobbie Goods (Sextante)
- ‘Diário de um Banana 1’, Jeff (VR)
- ‘O verão que mudou minha vida’, Jenny Han (Intrínseca)
- ‘Chico bento (2021)’, Mauricio de Sousa (Panini)
- ‘As aventuras de priminha irritante no reino dos unicórnios’, Gabriel Dearo/Manu Digilio (Outro Planeta)
- ‘Cascão (2021)’, Mauricio de Sousa (Panini)
- ‘O homem-cão’, Dav (Companhia das Letrinhas)
- ‘Pelas Entranhas + Brin- de’, Triz Parizotto (Maquinaria)