Os contratos de crédito indexados à Euribor 3 meses e cuja revisão ocorra em novembro vão registar uma ligeira subida na prestação a pagar ao banco. Contratos indexados à Euribor 6 e 12 meses ainda sentirão descida da prestação. BCE não deve mexer nas taxas de juro nos próximos tempos e as taxas Euribor deverão seguir essa estabilidade. Confira o seu caso

O Banco Central Europeu (BCE) manteve esta quinta-feira nos 2% a sua principal taxa de juro de referência, a taxa de depósitos, e não se perspetiva que num futuro próximo a instituição liderada por Christine Lagarde volte a efetuar mexidas nas taxas de juro. Uma estabilidade que resulta de um cenário em que a subida dos preços na zona euro está controlada, em torno de uma inflação de 2%, e em que a atividade económica continua a acrescer, mesmo que a um ritmo fraco.

Neste cenário de estabilidade, as perspetivas em relação às Euribor, as taxas que servem de indexante à maioria dos contratos de crédito à habitação em Portugal, também são de estabilidade, ou seja, os detentores destes contratos não devem esperar nos próximos tempos descidas ou subidas significativas das prestações a pagar ao banco.

Filipe Silva, Diretor de Investimentos do Banco Carregosa, relembra que após a decisão do BCE desta quinta-feira, na conferência de imprensa que se seguiu, os responsáveis da instituição com sede em Frankfurt, na Alemanha, não ofereceram “orientação para passos futuros, sublinhando que decidirão reunião a reunião, à medida que cheguem novos dados”, ainda assim, sublinha este responsável, a decisão “pouco mexeu com os mercados” e os mesmos mercados “continuam a sugerir que a campanha de cortes do BCE deverá ter terminado”.

Também Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, recorda que as declarações da líder do BCE são a demonstração de estabilidade. “Ficou claro que não há intenção em alterar as taxas de juro de referência num futuro previsível. O BCE considera que está numa boa posição tendo em conta os níveis atuais de inflação e crescimento. Reconhece risco tantos em baixa como em alta para a inflação – muito ligados ao efeito das políticas protecionistas, mas não dá sequer a entender se está mais preocupado com os riscos de a inflação subir ou descer”, explica o economista, adiantando que não surpreende, por isso, que o mercado projete estabilidade das taxas de referência para 2026. “Há uma probabilidade inferior a 40% de que o BCE possa cortar taxas para o ano, mas julgo que terá mais a ver com as expectativas de cortes paras taxas do dólar que poderiam levar o BCE a ter de também descer juros para evitar uma valorização adicional do euro. Não é, de todo, o cenário central”.

Filipe Garcia concluí, assim, que “o mais provável é a manutenção de taxas de juro por bastante tempo” e é também isso “que mostram as projeções para as Euribor em 2026”.

Apesar deste cenário, ao longo dos últimos meses as taxas Euribor têm vindo a subir, ainda que de forma ligeira, quer no prazo a 3, como a 6 e a 12 meses. E outubro não foi exceção, as taxas voltaram a subir face a setembro, mas essa subida apenas terá reflexo num aumento da prestação a pagar ao banco para quem tenha o crédito indexado à Euribor 3 meses a ser revisto em novembro. Isto acontece porque, apesar da subida mensal das taxas, o que é relevante para a nova prestação a pagar ao banco, não é a comparação com o mês anterior, mas sim a comparação com a data da última revisão do valor da prestação. Ora, para quem tem um contrato indexado à Euribor 3 meses a ser revisto no próximo mês, a comparação relevante é com a taxa que estava em vigor em julho e nessa comparação, também há uma subida das taxas, pelo que a prestação também irá aumentar.

Já no caso dos contratos indexados à Euribor 6 meses e 12 meses, apesar de em outubro se ter registado uma subida face a setembro, não só não se registou uma subida face às taxas da última revisão, como houve mesmo uma descida, pelo que a prestação a pagar ao banco irá diminuir para quem tiver o seu contrato a ser revisto em novembro.

Por exemplo, um contrato de 200 mil euros a 30 anos, com um spread (margem do banco) de 1%, indexado à Euribor 3 meses, irá ter um aumento da prestação de cerca de cinco euros. Já o mesmo contrato, mas indexado à Euribor 6 meses ou 12 meses, irá registar descidas na prestação a pagar ao banco, respetivamente de cerca de 10 e 52 euros.

Confira o seu caso:
 

Quanto já aumentou e como vai evoluir em novembro a prestação da casa

Empréstimo a 30 anos com spread de 1% || Dados de outubro até dia 30

 

EURIBOR 3 MESES

 

  Empréstimo de 50 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 195,69   Fevereiro de 2023 220,04 24,34 Maio 243,03 22,99 Agosto 257,64 14,61 Novembro 266,35 8,71 Fevereiro de 2024 265,08 -1,27 Maio 263,94 -1,14 Agosto 258,15 -5,79 Novembro 243,62 -14,53 Fevereiro de 2025 231,06 -12,56 Maio 219,18 -11,88 Agosto 212,54 -6,63 Novembro 213,74 1,20       Aumento face a 2022   18,05

 

  Empréstimo de 100 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 391,39   Fevereiro de 2023 440,07 48,69 Maio 486,05 45,98 Agosto 515,28 29,23 Novembro 532,70 17,42 Fevereiro de 2024 530,16 -2,53 Maio 527,89 -2,28 Agosto 516,30 -11,58 Novembro 487,24 -29,06 Fevereiro de 2025 462,12 -25,12 Maio 438,35 -23,77 Agosto 425,08 -13,27 Novembro 427,48 2,40       Aumento face a 2022   36,09

 

  Empréstimo de 150 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 587,08   Fevereiro de 2023 660,11 73,03 Maio 729,08 68,96 Agosto 772,92 43,84 Novembro 799,04 26,12 Fevereiro de 2024 795,24 -3,80 Maio 791,83 -3,42 Agosto 774,45 -17,38 Novembro 730,86 -43,60 Fevereiro de 2025 693,18 -37,68 Maio 657,53 -35,65 Agosto 637,63 -19,90 Novembro 641,22 3,59       Aumento face a 2022   54,14

 

  Empréstimo de 200 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 782,78   Fevereiro de 2023 880,15 97,37 Maio 972,10 91,95 Agosto 1 030,56 58,45 Novembro 1 065,39 34,83 Fevereiro de 2024 1 060,33 -5,06 Maio 1 055,77 -4,55 Agosto 1 032,60 -23,17 Novembro 974,48 -58,13 Fevereiro de 2025 924,24 -50,24 Maio 876,71 -47,53 Agosto 850,17 -26,54 Novembro 854,96 4,79       Aumento face a 2022   72,18

 

EURIBOR 6 MESES

 

  Empréstimo de 50 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 210,72   Maio de 2023 252,67 41,95 Novembro 270,82 18,14 Maio de 2024 262,72 -8,09 Novembro 239,24 -23,49 Maio de 2025 218,05 -21,19 Novembro 215,55 -2,50       Aumento face a 2022   4,83

 

  Empréstimo de 100 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 421,44   Maio de 2023 505,35 83,91 Novembro 541,63 36,29 Maio de 2024 525,45 -16,18 Novembro 478,47 -46,98 Maio de 2025 436,10 -42,38 Novembro 431,10 -5,00       Aumento face a 2022   9,65

 

 

  Empréstimo de 150 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 632,16   Maio de 2023 758,02 125,86 Novembro 812,45 54,43 Maio de 2024 788,17 -24,28 Novembro 717,71 -70,46 Maio de 2025 654,14 -63,57 Novembro 646,64 -7,50       Aumento face a 2022   14,48

 

  Empréstimo de 200 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 842,88   Maio de 2023 1 010,69 167,81 Novembro 1 083,27 72,57 Maio de 2024 1 050,90 -32,37 Novembro 956,95 -93,95 Maio de 2025 872,19 -84,75 Novembro 862,19 -10,00       Variação face a 2022   19,31

 

EURIBOR 12 MESES

 

  Empréstimo de 50 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 228,14   Novembro de 2023 272,09 43,95 Novembro de 2024 230,86 -41,23 Novembro de 2025 217,91 -12,95       Variação face a 2022   -10,23

 

  Empréstimo de 100 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 456,28   Novembro de 2023 544,18 87,90 Novembro de 2024 461,71 -82,47 Novembro de 2025 435,82 -25,89       Aumento face a 2022   -20,46

 

  Empréstimo de 150 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 684,41   Novembro de 2023 816,27 131,86 Novembro de 2024 692,57 -123,70 Novembro de 2025 653,72 -38,84       Aumento face a 2022   -30,69

 

  Empréstimo de 200 mil euros   Pagava Evolução Novembro de 2022 912,55   Novembro de 2023 1 088,36 175,81 Novembro de 2024 923,42 -164,94 Novembro de 2025 871,63 -51,79       Aumento face a 2022   -40,92

 

NOTA 1 | Como foram feitos os cálculos

Os cálculos partem do princípio de que há três anos o capital em dívida era de 50, 100, 150 ou 200 mil euros, consoante o exemplo, e que o prazo de pagamento era de 30 anos, com um spread de 1%. A partir desse ponto, a cada revisão do contrato, aplica-se a taxa de juro correspondente e diminui o montante em dívida e o prazo de pagamento do crédito.

NOTA 2 | O que são as taxas Euribor

Euribor é a abreviatura de Euro Interbank Offered Rate. As taxas Euribor baseiam-se nas taxas de juro que um conjunto de bancos europeus está disposto a pagar para emprestar dinheiro uns aos outros. No cálculo, os 15% mais altos e mais baixos de todas as cotações recolhidas são eliminados. As restantes taxas são calculadas como média e arredondadas a três casas decimais. O valor das taxas Euribor é determinado e publicado diariamente. Existem cinco taxas Euribor diferentes, todas com diferentes maturidades (uma semana, um mês, três meses, seis meses e 12 meses).