Os democratas do D66 são o partido mais votado nas eleições legislativas nos Países Baixos, que se realizaram na quarta-feira, 29 de Outubro, informou esta sexta-feira a agência noticiosa holandesa ANP. Ainda sem resultados oficiais, a ANP avançou que a vantagem do partido liderado por Rob Jetten já não pode ser suplantada pelo Partido de Liberdade (PVV), da extrema-direita de Geert Wilders, segundo classificado, para já com os mesmos 26 assentos parlamentares. O D66 poderá ainda conseguir mais um mandato e vencer tanto em número de votos como de deputados eleitos.
Líder do partido com maior representação na Tweede Kammer (a câmara baixa do Parlamento), Rob Jetten surge como o provável próximo primeiro-ministro dos Países Baixos. Aos 38 anos, será o mais jovem de sempre e o primeiro abertamente homossexual. É um progressista de centro-esquerda, social e economicamente liberal.
Deve agora nomear o representante do D66 que se encarregará de iniciar contactos com outros partidos nas negociações pós-eleitorais com vista a formar uma coligação de governo maioritária. Esta “fase exploratória” das discussões iniciar-se-á a 5 de Novembro, depois de contados 100% dos votos.
Rob Jetten mostrou-se “incrivelmente feliz” com o “momento histórico” para o D66, que nunca tinha sido o mais votado, salientando a “grande responsabilidade” que agora recai sobre si. Com os partidos separados por pouco mais de 15 mil votos, o resultado oficial não deve ser divulgado antes de 4 de Novembro, dia em que termina a contagem dos votos por correspondência. Nos votos nacionais, resta apurar o município de Venray, onde houve um atraso por problemas durante a contagem.
Os votos da diáspora (cerca de 90 mil) tendem a favorecer partidos mais centristas e de esquerda. Nas últimas eleições, em 2023, o D66 obteve cerca de três mil votos por correspondência a mais do que o PVV, mesmo tendo ficado muito atrás em número total.
“Os eleitores indicaram claramente que é necessária cooperação”, disse Jetten aos jornalistas esta sexta-feira, 31. “Queremos encontrar uma maioria que trabalhe com empenho em questões como o mercado da habitação, a migração, o clima e a economia.”
Das possíveis coligações que o D66 explorará, a mais óbvia e robusta seria ao centro com os democratas-cristãos da CDA, os conservadores do VVD, e os verdes/trabalhistas do GroenLinks. No entanto, o VVD afirmou em campanha eleitoral que se recusava a discutir soluções de governo com os esquerdistas do GroenLinks — poderá agora ter de repensar a estratégia.
Nos restantes cenários hipotéticos, também se verifica que pelo menos um partido terá sempre de fazer cedências ideológicas em relação a possíveis parceiros para formar maioria. Espera-se uma negociação de vários meses até que seja encontrada uma solução.
Wilders não concede
“Que arrogância não esperar”, atacou Wilders através do X, frisando que a “ANP66” — junta ironicamente os nomes da agência de notícias e do D66 — “não decide” o resultado oficial. “Mesmo que o D66 seja o maior partido, o PVV não permitirá que Jetten e os seus ‘comparsas’ destruam os Países Baixos, e desde o primeiro dia opor-nos-emos com toda a força, com os nossos 26 lugares, à sua má governação liberal de esquerda!”
Aquando da divulgação das primeiras projecções à boca das urnas, que davam uma vitória ao D66 por diferença de dois mandatos parlamentares, Wilders concedeu que o PVV não faria parte de uma solução governativa. No entanto, na quinta-feira, quando passou momentaneamente para a liderança, frisou a importância de não especular antes do resultado oficial de 4 de Novembro.
Os partidos moderados, tanto à esquerda como à direita, tinham já traçado uma linha vermelha em relação a possíveis aproximações à direita radical de Wilders.
As eleições antecipadas aconteceram na sequência da queda do Governo periclitante liderado — e dinamitado — por Wilders, que abandonou a coligação quando os parceiros de centro-direita não viabilizaram as suas medidas sobre imigração e asilo, que incluíam, por exemplo, a deportação de refugiados.