Kathryn Hansen / NASA / Flickr

Cientistas descobriram formas de vida especiais a prosperar sob o gelo marinho do Ártico. Até agora, julgava-se que a sua presença nestas condições escuras e geladas era impossível. Estas descobertas podem ter implicações globais para o clima.
O gás azoto compõe aproximadamente 78% da atmosfera terrestre, e todos os organismos necessitam dele para sobreviver. Contudo, a maioria não pode usar o elemento – a menos que este seja primeiro convertido em amoníaco ou amónio.
Os micróbios que conseguem captar azoto do ar são chamados fixadores de azoto, e fornecem um recurso fundamental para ecossistemas inteiros.
Historicamente, os cientistas acreditavam que, nos oceanos, estes eram exclusivos das águas quentes e tropicais. No entanto, um estudo publicado na semana passada na Nature revelou que não é bem assim.
“Pensava-se que a fixação de azoto não poderia ter lugar sob o gelo marinho porque se assumia que as condições de vida para os organismos que realizam a fixação de azoto eram demasiado pobres”, disse, à Science Alert, a autora principal e bióloga Lisa von Friesen, da Universidade de Copenhaga (Dinamarca). “Estávamos enganados.”
Só na última década é que os investigadores começaram a considerar o Oceano Ártico como uma fonte negligenciada de bactérias fixadoras de azoto.
Embora os cientistas já tivessem encontrado fixadores de azoto nas águas frias do Ártico, este estudo é o primeiro a descobrir estes micróbios sob o gelo marinho.
Amostras do Oceano Ártico Central e do Ártico Euroasiático revelaram uma comunidade de micróbios prósperos chamados diazotróficos não cianobacterianos (NCDs). Este é um nome sofisticado para bactérias que fixam azoto mas não realizam fotossíntese.
Os investigadores ainda não demonstraram que estes micróbios estão efetivamente a fixar azoto no Ártico, apenas que possuem a maquinaria genética para o fazer. A sua distribuição e abundância, contudo, sugerem que estão intimamente envolvidos na atividade de fixação de azoto da região.
“Impacto global”
Os investigadores descobriram que as margens do gelo marinho Ártico tendem a albergar mais bactérias fixadoras de azoto e uma atividade de fixação de azoto mais elevada.
Isto sugere que, à medida que o gelo Ártico derrete rapidamente com as alterações climáticas, mais destes micróbios únicos poderão proliferar, alterando a teia alimentar marinha e afetando a própria atmosfera.