A 1 de Novembro de 2024, o Manchester United declarava-se “encantado” por ter “um dos mais excitantes e considerados treinadores jovens da Europa”. Falava, claro, de Ruben Amorim, bicampeão português com o Sporting, treinador de ideias fixas e discurso agregador. Ele não queria ir logo para Manchester. Queria fechar o seu ciclo no Sporting no final dessa época, mas o United desejava tê-lo já e o jovem treinador entendeu que o comboio não iria passar outra vez. Subiu a bordo dos “red devils”, armado com as suas convicções inabaláveis e preparado para o embate com a Premier League e com um dos maiores clubes do mundo.
Passou um ano desse anúncio oficial e Amorim está a viver o seu melhor momento em Old Trafford – e por esse melhor momento também se percebe que o Manchester United andou muito por baixo nos últimos 12 meses. Pela primeira vez com o técnico português, os “red devils” vão em três vitórias consecutivas na Premier League, sendo que, antes desta série, não tinham sequer conseguido duas seguidas. Neste sábado, frente ao Nottingham Forest de Sean Dyche, veremos se Amorim consegue quatro vitórias seguidas e consolidar a posição do United no topo da Premier League.
Amorim era um valor seguro na Liga portuguesa, mas tem passado o último ano a ser olhado com desconfiança – porque era jovem, porque era a Premier League, porque era o Manchester United. E tem passado o último ano a defender todas as suas opções, porque os resultados não apareciam. O 3x4x3 não funciona, dispensar Garnacho e Rashford é um erro, não apostar em Mainoo é um desperdício, não tem centrais para jogar com três atrás. E Amorim, num processo de tentativa e erro, perdeu mais do que o United estava habituado – em 51 jogos, 21 vitórias (40%), 12 empates (23%) e 19 derrotas (37%).
“Tem sido uma grande viagem”, reflectia o técnico português há poucos dias. “E tem sido duro, muito duro. Bons momentos, maus momentos, mas aprendi muito, isso é que é importante. Descobri que, mesmo quando estava no fundo, conseguia manter-me fiel às coisas em que acredito e isso é muito importante.”
Patrão do United deu tempo
Desde que Alex Ferguson se retirou, em 2013, o Manchester United, primeiro com os Glazer, depois com Ratcliffe, tem tentado reproduzir a fórmula ganhadora que teve durante quase 30 anos com o escocês. Essa lista incluiu David Moyes, José Mourinho, Louis van Gaal, Ole Gunnar Solskjaer, Ralf Rangnick e Erik ten Hag. Sem contar com os interinos, Amorim é o sétimo sucessor de Ferguson e, de todos, é o que tem menor percentagem de vitórias – até Moyes, que aguentou 51 jogos (os que Amorim já disputou), teve mais vitórias, 27, e nem sequer teve direito a uma época completa.
Ferguson teve esse tempo – chegou a Old Trafford em Novembro de 1986, ganhou o seu primeiro título, uma Taça de Inglaterra, em 1990, ficou com a Taça das Taças em 1991 e só foi campeão inglês em 1993. Ou seja, só no final da sétima época é que ganhou o primeiro de 13 títulos de campeão. Já Amorim, segundo diz a imprensa britânica, terá a promessa do tempo por parte de Ratcliffe – três épocas completas para transformar o United num clube vencedor. O patrão da INEOS gosta do estilo do português e não quer voltar atrás numa decisão que implica gastos adicionais.
As saídas e entradas
Amorim ainda só leva duas janelas de transferências no United. No primeiro Inverno em Manchester, Patrick Dorgu, lateral dinamarquês, foi a única contratação relevante (30 milhões), mas foi no Verão passado que Amorim teve, pela primeira vez, o duplo poder do livro de cheques e da vassoura. “Varreu” do United jogadores que vinham da formação – Marcus Rashford e Alejandro Garnacho – e outros que custaram milhões – Hojlund, Onana, Antony ou Sancho.
Em reforços, gastou um total de 250 milhões, para formar uma frente de ataque nova (Mbeumo, Matheus Cunha e Sesko) e para ter um novo guarda-redes (o belga Lammens). Para o sector defensivo e para o meio-campo, ainda nada, mas essa deverá ser a próxima prioridade, já que o United tem a 11.ª pior defesa da Premier League, com 14 golos sofridos.
A verdade é que, com o que tem, este Manchester United, sem o “estorvo” das competições europeias, vai em sexto na Premier League, com os mesmos pontos do Manchester City (16), mais um ponto que o campeão Liverpool (15), mais dois que o Chelsea (14) e não está assim tão longe como isso do líder Arsenal (22). Já teve momentos muito baixos esta época, como a eliminação na Taça da Liga por uma equipa da quarta divisão (Grimsby Town) e uma derrota expressiva contra o rival City (3-0). Mas já ganhou ao Chelsea e ao Liverpool e não esteve longe de fazer o mesmo frente aos “gunners”.
De momento, as esperanças de renascimento do United são maiores agora do que eram há um mês. Mas Amorim não foi contratado para, de vez em quando, conseguir ganhar três jogos seguidos.