José Manuel Pureza é, sabe o DN, escolha quase consensual na Moção A, que tem a maioria dos elementos da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda. Como tal, o antigo deputado, um dos fundadores do partido, terá apoios suficientes para avançar como subscritor principal da Moção A. As reuniões entre militantes têm existido e nessas têm vindo a esbater-se as diferenças que iam existindo.

No caso do Bloco de Esquerda, em todo o partido, existem duas correntes paralelas, que se intercecionam, trabalham em cooperação, mas vão a teste quando há nova liderança em perspetiva. Com a anunciada saída de Mariana Mortágua, que não se recandidata à coordenação, a Moção A, da atual Mesa Nacional, terá de se colocar de acordo para um nome. E isso depende da compreensão das duas visões dominantes no partido: a Anticapitalista e a Esquerda Alternativa.

Por agora, as visões vão a diálogo e José Manuel Pureza, que, sabe o DN, é opção forte para ser o nome proposto à coordenação, integra o anticapitalismo e pauta-se pelo “sentido que dá à primeira pessoa do plural”, pelo “nós da esquerda que agrega em registo de solidariedade, que não é o nós do cosmopolitismo burguês feito de uma agenda de globalização dos padrões das classes dominantes”, identifica num texto escrito em 2024 no manifesto Rede Anticapitalista.

É nele que constam nomes como Francisco Louçã, Catarina Martins, Jorge Costa, José Gusmão ou José Soeiro, outro nome que estava também em linha de sucessão. Ainda assim, apesar de ser um dos ideólogos do partido, deverá mesmo ser Pureza o escolhido, apurou o DN.

A vontade também é que a ponderação se faça sentir no discurso. A ideia de radicalização que o Bloco tem sido associado deverá ser rebatida por um defensor de ideais muito semelhantes na política interna e externa, mas que se paute por uma comunicação também focada no diálogo e nas pontes.

Pureza foi deputado em três legislaturas, foi ex-vice-presidente da Assembleia da República, é professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e tem trabalhado a construção de consensos entre os dois grupos. Houve críticas, sabe o nosso jornal, por parte dos militantes mais jovens da Esquerda Alternativa, que pretendiam um nome mais inovador. Andreia Galvão, que substituiu Mortágua no Parlamento, foi um dos nomes avançados por esta ala.

Pureza esteve muitos anos ao lado de Louçã no Parlamento e é um dos defensores da base do Bloco de Esquerda. A sucessão vai sentir-se mais no discurso do que, propriamente, nas ideias defendidas, ao que o DN pôde saber.

Pertence à Mesa Nacional, não à Comissão Política, uma independência que agrada até pela divisão de poderes no Bloco. Pureza será nomeado, em casa, em Coimbra, no plenário de domingo. Sabe-se que isso não vale a nomeação para a coordenação, mas encaminha-a de certa maneira. A Moção A foi a ampla vencedora na última Convenção. Em novembro, estão quatro opositoras a concurso, deverá existir uma maior divisão na futura Mesa Nacional, mas espera-se que o núcleo duro do partido se mantenha.