O mar voltou a trazer “Rabo de Peixe” à superfície – maior, mais ruidoso, mais ambicioso. A segunda temporada da série, estreada a 17 de outubro na Netflix, confirma a produção açoriana como um marco na ficção portuguesa, propondo-se a ser ainda mais intensa e internacional do que a primeira, num salto que traz desafios naturais – quando a história cresce, o risco também.
O ponto de partida mantém-se: um grupo de jovens de um dos lugares mais pobres do país tenta escapar ao destino que a ilha lhes impõe. Só que agora a corrente está mais perigosa e o mar cheio de novos inimigos e dramas que atravessam fronteiras. Com uma imagem belíssima – polida, melancólica e profundamente atmosférica -, a realização é um dos pontos fortes. A paisagem poderosa dos Açores e a mestria em aproveitar a luz natural do arquipélago mostram um cuidado evidente em fazer o espectador sentir o clima – o vento, a humidade, a sensação de isolamento.
O elenco liderado pelo jovem Eduardo (José Condessa) – alargado ao estrangeiro, com a participação dos brasileiros Caio Blat e Paolla Oliveira – amadureceu. A interpretação segura, o ritmo narrativo acelerado, a escrita fluída e o impacto cultural que fizeram da primeira temporada um sucesso mundial seguem firmes, embora a simplicidade da primeira temporada, feita de precariedade e sonhos à beira-mar, dê por vezes lugar a um tom mais artificial e exagerado, enredado em clichês de série criminal, com notas pouco verosímeis e, mais uma vez, foda-ses, cabrões e afins metidos à bruta em cada cena.
Apesar das dores de crescimento e falhas naturais, Rabo de Peixe não se deixa levar pela corrente da própria fama e eleva a fasquia com dignidade, mantendo-se uma lufada de ar fresco no panorama televisivo nacional e provando que a autenticidade também pode ser internacional.