Kefir ajuda a recompor a flora intestinalKefir ajuda a recompor a flora intestinalFoto: Reprodução/ND

O kefir é uma bebida fermentada produzida a partir de grãos simbióticos de bactérias e leveduras. Por séculos, foi conhecido como o “ouro branco” do Cáucaso, região montanhosa entre a Europa e a Ásia onde era passado de geração em geração.

A bebida é um probiótico vivo, ou seja, contém micro-organismos que atuam diretamente na microbiota intestinal, fortalecendo as defesas do organismo e melhorando a digestão.

“O kefir é um probiótico não industrializado, ou seja, você produz na sua casa”, explicou o médico gastroenterologista Fernando Lemos, em vídeo publicado no canal Planeta Intestino.

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São pequenos grãos que lembram flores de couve-flor e, quando colocados em leite ou água com açúcar, iniciam o processo de fermentação.

Durante a fermentação, esses micro-organismos transformam os açúcares do leite (lactose) ou da água (açúcar mascavo, demerara ou melado) em ácidos orgânicos, gases e compostos bioativos, um processo que dá origem à bebida ligeiramente ácida, levemente alcoólica e repleta de probióticos.

Esses grãos iniciam o processo de fermentação quando colocados em leite ou água com açúcarEsses grãos iniciam o processo de fermentação quando colocados em leite ou água com açúcarFoto: Freepik/ND Mais

De acordo com o estudo “Propriedades antimicrobianas do kefir”, a substância apresenta atividade antimicrobiana, antioxidante, anti-inflamatória e até cicatrizante, além de melhorar a absorção de nutrientes e fortalecer o sistema imunológico.

No intestino, as bactérias boas do kefir competem com as ruins, ajudam a equilibrar a flora intestinal e produzem substâncias que beneficiam o funcionamento de todo o organismo.

Como usar o kefir corretamente?

Lemos recomenda começar devagar. “Eu sugiro iniciar com 100 ml durante sete dias, depois passar para 170 ml por mais sete dias e, finalmente, alcançar 200 ml por dia. Nunca mais do que isso”, orienta.

Segundo o especialista, o consumo em excesso pode causar distensão abdominal, gases e desconforto digestivo, resultado da fermentação intensa no intestino.

O consumo em excesso do kefir pode causar distensão abdominal, gases e desconforto digestivoO consumo em excesso do kefir pode causar distensão abdominal, gases e desconforto digestivoFoto: Divulgação/ND Mais

“Pessoas que querem consumir mais do que 250 ml ou 300 ml por dia, eu sugiro que tomem em dias alternados”, explica. “Tome em um dia, falhe no outro. É assim que eu recomendo.”

Quem deve evitar o kefir

Nem todo mundo pode se beneficiar do “ouro branco”. O médico é claro: pessoas com imunidade baixa, doenças autoimunes ativas ou em tratamento com corticoides e imunossupressores devem evitar o kefir.

“Eu nunca recomendo kefir para pessoas que são imunodeprimidas”, afirma. “Mesmo bactérias benéficas podem causar uma hiperproliferação e ir para a corrente sanguínea, gerando infecções graves.”

Pessoas com intolerância à proteína do leite (caseína) também devem evitar o kefir de leite. “Intolerantes à lactose podem usar, porque o kefir ajuda a produzir a lactase, enzima que digere a lactose. Mas quem tem alergia à proteína do leite, não”, ressalta.

Substância faz bem para a flora intestinalSubstância faz bem para a flora intestinalFoto: Shutterstock/ND

Outro grupo que deve ter atenção é o dos alcoólatras em recuperação, já que a fermentação do kefir produz pequenas quantidades de etanol. “É mínimo, menos de 2%, mas suficiente para reativar o vício em quem está em tratamento”, adverte.

Além disso, há pessoas naturalmente intolerantes ao kefir, que desenvolvem sintomas como náuseas, dor de cabeça, diarreia ou erupções na pele. “É incomum, mas acontece. Se for o seu caso, não insista”, alerta Lemos.

Cuidados necessários para manipular o kefir

Um estudo da Universidade de Campinas, citado pelo médico, identificou contaminações em kefir artesanal distribuído entre grupos de troca. As amostras apresentavam fungos, bactérias nocivas e vírus, resultado da má higiene durante o preparo e armazenamento.

“No kefir de água, encontraram Staphylococcus aureus. No de leite, Escherichia coli e coliformes fecais acima do limite permitido pela Anvisa”, explica.

Para evitar riscos, o médico reforça os cuidados de higiene:

  • Sempre lave bem as mãos com água e sabão, seque e passe álcool antes de manipular;
  • Ferva os utensílios, frascos, peneiras, colheres, e use recipientes de vidro, nunca de metal;
  • Evite inox, pois o contato altera o processo. Prefira colheres de plástico duro ou madeira;
  • Cubra o recipiente com um pano poroso, que permita respirar, e mantenha o kefir em local arejado e sem luz direta;
  • A fermentação deve ocorrer à temperatura ambiente, e o líquido pronto pode ser armazenado em geladeira por até sete dias.

Se houver mudança de cor, odor forte ou textura estranha, descarte o kefir, ele pode estar contaminado. “O kefir pode sim estragar e precisa ser jogado fora”, diz o médico.

Quais os benefícios comprovados do kefir?

Quando produzido e consumido corretamente, o kefir oferece um leque impressionante de benefícios. Pesquisas apontam que ele:

  • Melhora o equilíbrio da microbiota intestinal, auxiliando no tratamento de disbiose;
  • Fortalece o sistema imunológico, estimulando a resposta natural do corpo a infecções;
  • Ajuda na digestão e absorção de nutrientes, reduzindo gases e constipação;
  • Apresenta atividade antimicrobiana, combatendo patógenos como E. coli e Salmonella;
  • Tem efeito anti-inflamatório e antioxidante, que pode contribuir para o bem-estar geral e prevenção de doenças crônicas.

Fernando Lemos é um médico coloproctologista (CRM-RS 26351), especialista no diagnóstico e tratamento de doenças do intestino grosso, reto e ânus. Fundou o canal no youtube “Planeta Intestino” que possui mais de 6 milhões de inscritos.