Na entrevista ao programa 60 Minutes, o presidente norte-americano revelou ainda que “não acredita” que os EUA entrem num conflito com a Venezuela, mas deixou por esclarecer se a sua Administração tem planos de ataque.

Duvido. Não acredito nisso. Mas eles têm-nos tratado muito mal“, afirmou, após o que mencionou o tráfico de drogas e a imigração ilegal de criminosos venezuelanos para os Estados Unidos.As declarações do presidente, feitas durante uma
entrevista à CBS divulgada no domingo, surgem num contexto de acumulação
de tropas norte-americanas nas Caraíbas e da realização de múltiplos
ataques a embarcações alegadamente ligadas ao tráfico de droga, que
mataram dezenas de pessoas. 

Posteriormente, quando questionado pela jornalista Norah O’Donnell sobre possíveis ataques dos Estados Unidos a alvos em território venezuelano, Trump respondeu que não queria dizer “se é verdade ou não” e acrescentou que não revelaria “a uma jornalista” se os Estados Unidos vão “atacar ou não”.

Antes, ao descer do Air Force One, Trump foi questionado sobre eventuais planos concretos dos Estados Unidos para um ataque à Venezuela, ao que respondeu de forma semelhante.

“Como posso responder a uma pergunta como essa? Há planos para um ataque à Venezuela? Quem diria isso? Supondo que houvesse, acha que lhe diria isso? Honestamente? Sim, temos planos. Temos planos muito secretos”, acrescentou, criticando novamente a pergunta.

“Olhe, vamos ver o que acontece com a Venezuela”, afirmou, antes de retomar o argumento de que o Governo da Venezuela “enviou [para os Estados Unidos] milhares de pessoas de prisões, instituições psiquiátricas e viciados em drogas”.

Na entrevista com a CBS, pressionado sobre a presença de um porta-aviões nas águas das Caraíbas, em referência ao USS Gerald Ford, que é o maior e mais sofisticado porta-aviões norte-americano, e que pode sugerir uma operação aérea contra a Venezuela, Trump respondeu com ironia: “tem que estar em algum lugar, é muito grande”.

Em termos gerais, Trump interrompeu a jornalista para falar sobre imigração cada vez que O’Donnel tentou retomar as perguntas relacionadas com um eventual ataque militar à Venezuela, evitando dar respostas concretas, mas quando questionado sobre “se [o presidente venezuelano, Nicolás] Maduro tem os dias contados”, foi rápido a responder: “Eu diria que sim, acho que sim”.

Trump e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, negaram na sexta-feira que os Estados Unidos estejam a preparar-se para atacar a Venezuela, apesar do aumento indiscutível da pressão militar sobre Caracas.

Maduro, que enfrenta acusações de tráfico de droga nos EUA, acusou Washington de usar o narcotráfico como pretexto para “impor uma mudança de regime” em Caracas e tomar o controlo do petróleo venezuelano.

Acumulação de tropas norte-amerinas nas Caraíbas



As declarações do presidente, feitas durante uma entrevista à CBS, surgem no meio da acumulação de tropas norte-americanas nas Caraíbas e da realização de múltiplos ataques a embarcações alegadamente ligadas ao tráfico de droga, que mataram dezenas de pessoas.

A campanha de ataques aéreos levada a cabo desde o início de setembro
contra embarcações pertencentes a alegados narcotraficantes nas
Caraíbas, apresentada por Washington como uma luta contra o
narcotráfico, aumentou as tensões regionais, particularmente com a
Venezuela.

Os 16 ataques norte-americanos contra embarcações nas Caraíbas e no Pacífico mataram pelo menos 65 pessoas nas últimas semanas, tendo o mais recente ocorrido no sábado, o que gerou críticas por parte dos governos da região. 

Os Estados Unidos revelaram no sábado que realizaram mais um ataque a uma embarcação suspeita de transportar narcotraficantes nas Caraíbas, matando os seus três ocupantes, apesar das críticas sobre a legalidade destas operações, que desencadearam uma crise com a Venezuela.

Este navio, como todos os outros, era conhecido pelos nossos serviços de informação pelo seu envolvimento no tráfico ilícito de droga. Transitava por uma rota conhecida pelo tráfico de droga e transportava estupefacientes”, escreveu o secretário da Defesa, Pete Hegseth, na rede social X.

Três narcoterroristas do sexo masculino estavam a bordo do navio no momento do ataque, que foi realizado em águas internacionais. Os três foram mortos e nenhum membro das forças norte-americanas ficou ferido“, acrescentou.

Segundo o secretário da Defesa, Washington pretende “continuar a caçar e a matar” traficantes de droga, que serão “tratados como a Al Qaeda foi”.Washington ainda não divulgou qualquer prova de que
os seus alvos estivessem a contrabandear narcóticos ou representassem
uma ameaça para os EUA.  

Os EUA enviaram oito navios de guerra para as Caraíbas e caças F-35 para Porto Rico. O porta-aviões norte-americano, USS Gerald Ford, o maior do mundo, também está a caminho da região.

Um helicóptero MH-6 Little Bird participa numa demonstração: trata-se de um pequeno helicóptero em forma de ovo com uma escotilha lateral aberta, onde os soldados estão sentados enquanto paira sobre uma lancha militar com mais tropas; o mar parece escuro e calmo, mas há ondas com pontas brancas atrás da embarcação, sugerindo que esta se desloca a alta velocidade.

O presidente norte-americano, que admitiu ter autorizado operações clandestinas da CIA em solo venezuelano, mencionou recentemente possíveis ataques terrestres contra grupos “narcoterroristas”.

As autoridades venezuelanas anunciaram recentemente o desmantelamento de uma célula da CIA que alegadamente planeava atacar um navio de guerra norte-americano na região para criar um incidente e culpar a Venezuela.

As operações americanas estão também a causar tensões com a Colômbia. Donald Trump acusa o seu homólogo colombiano, Gustavo Petro, de inação em relação à produção de cocaína no seu país e impôs sanções económicas.