Em 1983, Randy Newman lançava I Love L.A., que em parte gozava com a cidade que o viu nascer e com os seus aspectos mais vácuos. Este ano, Rachel Sennott, actriz cómica que nos últimos encabeçou filmes de Emma Seligman como Shiva Baby ou Bottoms, que a própria co-escreveu com Ayo Edebiri, além de Corpos Corpos Corpos, de Halina Reijn, e I Used to Be Funny, de Ally Pankiw, é a criadora e protagonista de uma série cómica da HBO também chamada I Love L.A. A canção que lhe dá o nome ouve-se no primeiro episódio, e a série mantém a ambiguidade para com a cidade, a mesma relação de amor/ódio que Newman, que referia partes negativas de Los Angeles como se fossem positivas, tinha.

O primeiro dos oito episódios da série, que foram disponibilizados na íntegra à imprensa, chega à HBO Max esta segunda-feira. Tudo arranca no dia do 27.º aniversário de Maia, a personagem de Sennott. Tal como a sua criadora, mudou-se de Nova Iorque para Los Angeles. Tem o sonho de se tornar agente do mundo do entretenimento, uma área recheada, especialmente na cidade onde vive agora, de nepo babies e girlbosses e esses conceitos modernos, onde não é fácil uma pessoa ser valorizada. A patroa de Maia, com relutância em dar-lhe uma promoção, é uma girlboss interpretada por Leighton Meester, actriz de Gossip Girl. Frustrada no trabalho e a querer mais do que tem, Maia facilmente cai em mentiras entre amigos para tentar fingir que é mais bem-sucedida do que é na realidade.


Vamos aos amigos. Maia tinha uma amiga influencer que ficou para trás e com quem não fala ao início da série. Essa amiga, interpretada por Odessa A’Zion (nepo baby da vida real: é filha da brilhante actriz cómica e criadora de Better Things, Pamela Adlon), apanha um avião para celebrar o aniversário com ela e começam a trabalhar juntas. Além dessa amiga, Maia tem um namorado a quem é dada vida por Josh Hutcherson, um professor normal que não tem grande interesse no universo das celebridades, e amigos como um freelancer que trata da roupa de celebridades (Jordan Firstman, ele próprio uma voz cómica que se foi fazendo notar na internet), e uma nepo baby filha de um actor famoso que tem um cargo fictício na produtora do pai (a actriz que faz dela é outra nepo baby verdadeira, True Whitaker, filha do oscarizado Forest Whitaker).

Este é o grupo central da série, de personagens imperfeitas, por vezes irritantes, outras hilariantes, a navegar por esta Los Angeles. Ao longo dos episódios há celebridades, futilidade, drogas, sexo e gente a tentar encontrar o seu lugar no mundo. As personagens falam sobre conceitos específicos da cidade, sem haver preocupação em explicá-los, e têm as fixações de pessoas que cresceram online. Não é algo que a HBO quer que seja uma espécie de novo Girls ou Insecure, a querer apanhar a geração Z como essas séries (e todas as três são bastante diferentes entre elas, sublinhe-se) tinham apanhado os millennials (a geração a que, tecnicamente, Sennott, Hutcherson e Firstman pertencem).

O primeiro episódio é realizado por Lorene Scafaria, responsável por filmes como Até que o Fim do Mundo nos Separe ou Ousadas e Golpistas, e alguém que também esteve atrás das câmaras de três episódios de Succession. Este ano, a Netflix deu-nos a nova série de Lena Dunham, a criadora de Girls, Too Much, que visualmente estava muitos furos abaixo desse clássico dos anos 2010, com o brilho estandardizado Netflix a tornar tudo menos interessante do que deveria ser. Aqui não há, felizmente, nada disso.