Pará foi o único Estado da Amazônia Legal onde houve identificação confirmada do vírus em mosquitos Culex (FreePik)
03 de novembro de 2025
Fred Santana – Da Cenarium
MANAUS (AM) – Um estudo publicado em novembro de 2025 na revista The Lancet Regional Health – Americas confirmou a circulação ativa do vírus do Nilo Ocidental (WNV) em 13 Estados brasileiros entre 2014 e 2024, e detectou mosquitos infectados no Pará, o primeiro registro desse tipo na Amazônia Legal. Na maioria dos casos, a infecção causada pelo agente viral é leve, mas cerca de 1% evolui para doenças neurológicas graves, como encefalite e meningite viral.
A pesquisa, intitulada “Active West Nile Virus Transmission in Brazil: An Epidemiological Study”, alerta que as condições climáticas e ecológicas da região amazônica favorecem a expansão do vírus e reforça a necessidade de vigilância contínua em Estados da região, por causa da presença abundante de mosquitos e aves hospedeiras.
De acordo com o levantamento, a maior parte dos casos ocorreu nas regiões Nordeste e Sudeste, com destaque para Ceará e Piauí. No entanto, a detecção de mosquitos infectados no Pará acendeu um sinal de atenção para a região amazônica, onde as condições ambientais e climáticas – como temperatura elevada, umidade intensa e áreas alagadas – favorecem a reprodução do vetor da doença, o mosquito do gênero Culex.
A maior parte dos casos do vírus do Rio Nilo Ocidental ocorreu nas regiões Nordeste e Sudeste, com destaque para Ceará e Piauí (Peter Ilicciev/Fiocruz Imagens)
“A presença de mosquitos infectados indica que o vírus está adaptado ao ambiente tropical e pode circular de forma silenciosa em outras áreas do Norte”, afirmam os autores no estudo.
Detecção de mosquito na Amazônia
O artigo aponta que o Pará foi o único Estado da Amazônia Legal onde houve identificação confirmada do vírus em mosquitos Culex, os mesmos responsáveis pela transmissão da doença em outros países. “A detecção é um marco importante, pois indica que o ciclo de transmissão entre aves e mosquitos já está estabelecido na região”, destacam os pesquisadores.
O vírus do Nilo Ocidental é mantido na natureza por um ciclo entre mosquitos e aves, e pode infectar seres humanos e equinos de forma acidental. A maioria das infecções é assintomática ou leve, mas cerca de 1% dos casos evolui para formas neuroinvasivas, como encefalite e meningite viral, que podem ser fatais.
Segundo o estudo, o Brasil é considerado um País com potencial para a expansão geográfica do WNV, devido à sua extensão territorial e diversidade ecológica. “A identificação de mosquitos positivos no Pará reforça a necessidade de vigilância integrada entre saúde humana, animal e ambiental”, diz o relatório.
Vigilância integrada e monitoramento de aves
O estudo recomenda o fortalecimento da vigilância epidemiológica e laboratorial nos Estados do Norte, com atenção especial ao monitoramento de aves migratórias, que podem atuar como disseminadoras do vírus em longas distâncias. As rotas migratórias que cruzam o Nordeste e a Amazônia são consideradas estratégicas para entender a dispersão da doença.
Estudo recomenda o fortalecimento da vigilância epidemiológica e laboratorial nos estados do Norte (Peter Ilicciev/Fiocruz Imagens)
Os autores também destacam que o clima tropical úmido, associado ao desmatamento e à expansão urbana desordenada, cria novos ambientes para os mosquitos vetores. “Essas alterações ambientais aumentam a probabilidade de contato entre humanos, aves e mosquitos, elevando o risco de transmissão local”, advertem.
O artigo ressalta, ainda, que o risco atual é de vigilância e não de emergência, já que não há registro de surtos humanos recentes na Amazônia. Ainda assim, o achado no Pará indica que o vírus está ecologicamente ativo no Brasil e que o País deve manter monitoramento constante para prevenir possíveis surtos.
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