O norte-americano Victor Conte, ex-director do laboratório BALCO, envolvido num dos maiores escândalos de dopagem do desporto mundial, morreu nesta segunda-feira, aos 75 anos, anunciou a sua empresa de nutrição desportiva, a Snac.
Victor Conte tornou-se conhecido no início dos anos 2000, quando o seu laboratório, o Bay Area Laboratory Co-Operative (BALCO), foi acusado de fornecer esteróides anabolizantes e outras substâncias dopantes a dezenas de atletas, incluindo campeões olímpicos e estrelas do basebol.
Em 2005, Conte foi condenado a quatro meses de prisão por estar envolvido na rede de doping organizada pelo laboratório BALCO. O escândalo atingiu nomes de grande destaque, como Marion Jones, Dwain Chambers e várias figuras da Major League Baseball.
Trevor Graham, treinador de vários atletas famosos punidos e investigados por doping, entre os quais esteve o velocista Justin Gatlin, esteve inicialmente ligado ao esquema. No entanto, as desavenças com Conte levaram ambos a tentarem destruir-se mutuamente. O treinador teve mais sucesso: enviou uma seringa com tetrahidrogestrinona, esteróide sintético fornecido pela BALCO, para a Agência Antidoping dos EUA, que se juntou às autoridades judiciais e sanitárias para desmontar o esquema de Conte.
A investigação sobre o laboratório BALCO, acusado de produzir e distribuir substâncias dopantes, levou à condenação de cinco pessoas e à aplicação de diversas sanções a atletas.
A velocista Marion Jones, uma das maiores estrelas dos Jogos Olímpicos Sydney no ano 2000, também acabou por admitir o uso de substâncias e ter mentido às autoridades federais, o que a condenou a seis meses de prisão, em 2008, e à perda das três medalhas de ouro conquistadas na Austrália.
O caso BALCO envolveu cerca de 30 atletas, alguns ainda sob investigação anos mais tarde, entre os quais o jogador de basebol Barry Bonds, recordista de home-runs nos Estados Unidos. Nos anos seguintes, Conte continuou a falar publicamente sobre o uso de substâncias proibidas no desporto.
Numa entrevista ao diário desportivo italiano Gazzetta dello Sport, chegou a afirmar que, “antes do escândalo BALCO, 80% dos atletas recorriam a esteróides”, actualizando o número para 65%, acrescentando que ainda guardava “nomes, moradas e protocolos”, embora lamentasse que poucos confiassem nele após a condenação.
As suas declarações voltaram a gerar polémica quando lançou suspeitas sobre atletas de renome, incluindo o jamaicano Usain Bolt e o ex-ciclista Lance Armstrong. “Disseram-me que estavam a aplicar, na Jamaica, o mesmo protocolo que o [laboratório] BALCO forneceu, em 2001, a outros atletas das Caraíbas. Não tenho provas, mas mantenho muitas dúvidas sobre o sucesso de Bolt”, afirmou, na altura, Conte.
Conte passou os últimos anos dedicado à sua empresa Snac Nutrition, que desenvolvia suplementos desportivos. Apesar disso, o seu nome permaneceu indissociável do caso Balco, um dos episódios mais marcantes da luta contra a dopagem no desporto moderno.