Marco Villegas

Orca a nadar com um tubarão-branco com uma ferida visível, nas águas da Baixa Califórnia, no México

Um bando de orcas foi filmado no Golfo da Califórnia, ao largo da costa do México, a caçar jovens tubarões-brancos, virando-os de costas para os imobilizar antes de lhes arrancarem e comerem o fígado — um órgão altamente energético.

De acordo com um novo estudo, publicado no domingo na Frontiers, um grupo de orcas desenvolveu uma técnica especializada para caçar tubarões-brancos juvenis: virá-los de cabeça para baixo para os imobilizar.

Os tubarões-brancos têm apenas um predador natural conhecido: a orca, também chamada baleia-assassina. Até agora, só existia um registo confirmado, na África do Sul, em 2022, de orcas a atacarem tubarões-brancos juvenis.

O biólogo marinho mexicano Erick Higuera captou imagens aéreas de um grupo de cinco orcas a caçar três tubarões-brancos, em duas ocasiões distintas, no Golfo da Califórnia.

Na primeira caçada documentada, em agosto de 2020, cinco fêmeas de orca atuaram em conjunto para empurrar um jovem tubarão-branco até à superfície e virá-lo de barriga para cima.

Jesús Erick Higuera Rivas

Orcas a atacar tubarões-brancos juvenis, em agosto de 2020

Virar um tubarão desta forma provoca um estado chamado imobilidade tónica, que o paralisa temporariamente ao alterar a perceção que o animal tem do seu ambiente: basicamente, o tubarão fica “congelado”.

Este estado temporário torna o tubarão indefeso, permitindo às orcas extrair o seu fígado, rico em nutrientes, e provavelmente consumir outros órgãos antes de abandonarem o resto da carcaça”, explicou Higuera em comunicado publicado no EurekAlert.

As orcas mergulharam de seguida com a presa, tendo depois voltado a emergir, com o fígado do tubarão na boca. Pouco depois, repetiram o mesmo comportamento com um segundo tubarão-branco juvenil.

Em agosto de 2022, a equipa de investigação registou um padrão idêntico: cinco orcas empurraram outro jovem tubarão para a superfície, virando-o de costas, e foram observadas a alimentar-se do seu fígado.

Jesús Erick Higuera Rivas

Orcas a atacar tubarões-brancos juvenis, em agosto de 2022

“Este comportamento demonstra a inteligência avançada das orcas, o seu pensamento estratégico e a aprendizagem social sofisticada que partilham dentro dos grupos familiares — técnicas de caça que se transmitem de geração em geração”, detalhou Higuera.

Segundo o novo estudo, algumas das orcas observadas no primeiro incidente foram identificadas como as mesmas que já tinham sido vistas a caçar espécies como o tubarão-baleia e o tubarão-touro. Contudo, as imagens da segunda caçada não eram suficientemente nítidas para confirmar se pertenciam ao mesmo grupo.

Salvador Jorgensen, investigador da California State University e coautor do estudo, salienta que estas são as primeiras observações conhecidas de orcas a atacar repetidamente tubarões-brancos juvenis.

“Os tubarões-brancos adultos reagem de imediato à presença de orcas caçadoras, abandonando completamente as suas áreas sazonais de agregação e não regressando durante meses”, explica o investigador.

“Ao contrário dos tubarões adultos, os juvenis podem ser ingénuos perante as orcas. Ainda não sabemos se as respostas de fuga dos tubarões-brancos são instintivas ou precisam de ser aprendidas”, diz Jorgensen.

As orcas são máquinas de caça. São como snipers – usam estratégias de caça específicas, muito específicas dependendo da presa”, nota Higuera. “Estas descobertas sugerem que as orcas pertencem a um grupo que se alimenta de tubarões e que até agora não tinha sido reconhecido“, conclui.


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