Koukhan foi forçada a casar com um primo quando tinha apenas 12 anos, dando à luz um menino um ano depois.

No dia em que o marido foi assassinado, em maio de 2018, a adolescente encontrou-o a bater no filho de ambos, na altura com cinco anos. Revoltada, telefonou a um primo a pedir ajuda e, quando ele chegou, houve uma rixa violenta que resultou na morte do marido.

Após o incidente, Kouhkan chamou uma ambulância e contou às autoridades o que tinha acontecido. Tanto ela como o primo foram detidos. Durante o interrogatório, sem a presença de um advogado e sob pressão por não saber escrever, Goli Khoukan assinou a confissão do crime.

Apesar de ter sido condenada à morte por enforcamento, a lei iraniana contempla que a família da vítima possa perdoá-la em troca de uma indemnização. Neste caso, Koukhan terá de pagar cerca de 92 mil euros e abandonar a cidade de Gorgan. Além disso, a jovem não deverá ter permissão para entrar em contacto com o filho, agora com 11 anos, que está a ser criado pelos avós paternos.

Para ativistas de direitos humanos, o caso traduz o tratamento discriminatório dado às mulheres no Irão, onde o casamento infantil é legal e a proteção contra a violência doméstica é reduzida.

“Kouhkan pertence a uma minoria étnica, é uma mulher pobre. Provavelmente, o grupo mais vulnerável da sociedade iraniana”, explicou Mahmood Amiry-Moghaddam, da organização “Iran Human Rights” (IHR), com sede na Noruega. “A sua sentença é símbolo do uso da pena de morte por parte das autoridades iranianas para criar medo, e das leis discriminatórias e fatores sociais que levaram a essa situação”, acrescentou, citado pelo britânico “The Guardian”.

Segundo a IHR, a mulher sofreu abusos físicos e emocionais durante anos e, quando conseguiu escapar, o pai disse-lhe que a única forma de voltar a casa seria “envolta num sudário [lençol que envolve um cadáver]”.

“O caso da Kouhkan não é isolado. Ninguém sabe da existência destas mulheres, ninguém se importa com elas e as suas vozes não são ouvidas. As mulheres não têm direitos, são obrigadas a obedecer aos maridos e não vão à escola. As famílias casam as meninas precocemente devido à pobreza, porque não têm condições para sustentá-las”, explicou Ziba Baktyari, membro da organização “Bramsh”, que luta pelos direitos das mulheres balúchi.