Foi durante uma campanha do Outubro Rosa que Sandra Mendonça decidiu fazer o exame. Realizada em um caminhão do SUS (Sistema Único de Saúde), a mamografia indicou um possível carcinoma. Em 29 de outubro de 2021, o ultrassom confirmou o tumor com suspeita de malignidade. Sandra lembra que o diagnóstico precoce foi essencial. “O câncer é uma corrida contra o tempo. Quanto mais rápido o diagnóstico, maiores as chances de cura.”

Portadora de uma alteração hereditária (BRCA1) que aumenta o risco de desenvolvimento de câncer – entre eles, o de mama e o de ovário –, Sandra não foi a única da família a enfrentar a doença: sua mãe e duas irmãs também receberam o diagnóstico. “Mesmo com medo, sabia que não era uma sentença de morte”, conta.

Campanha do Outubro Rosa foi fundamental para que Sandra Mendonça e Kelli Corrêa descobrissem a doença
 Foto: Taras Grebinets/Adobe Stock

De acordo com dados do A.C.Camargo Cancer Center, quando o câncer de mama é diagnosticado em estágio inicial, as chances de cura variam entre 95% e 97%. A instituição ressalta que o índice elevado está diretamente ligado à detecção precoce e ao início imediato do tratamento, fatores decisivos para uma resposta positiva.

Durante o tratamento, Sandra passou por quimioterapia e radioterapia e, sob orientação médica, optou pela retirada das mamas e do ovário para prevenir o retorno da doença. Hoje, aos 50 anos, ela dedica parte da rotina a conscientizar outras mulheres sobre a importância do diagnóstico precoce, por meio de publicações em seu perfil no Instagram (@sandramendonca67).

“Quando você está doente, só enxerga dor. Por isso, ver alguém curada é um impulso. Quero que outras mulheres saibam que é possível vencer”, afirma.

A médica oncologista Carla Dias, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), explica que o câncer de mama apresenta variações de pessoa para pessoa, e que cada paciente é única. Ela também ressalta a importância da humanização no atendimento como parte fundamental do processo de cura.

“Curamos com remédio, mas também com empatia e com o olhar humano”, destaca a especialista.

Câncer na gravidez

Em 2018, Kelli Corrêa ouviu no rádio uma chamada sobre a campanha de combate ao câncer de mama. Apesar de já realizar o rastreamento regularmente, havia ficado um ano sem fazê-lo após a gestação do primeiro filho, aos 40 anos.

No exame, veio o diagnóstico de câncer e, poucas semanas depois, a descoberta da segunda gravidez. Mesmo em choque, Kelli decidiu que viveria as duas experiências simultaneamente. “Era a doença e a vida juntas. Então, foquei na vida”, lembra.

Com 21 semanas de gestação, Kelli fez a cirurgia para retirada do nódulo e iniciou a quimioterapia ainda durante a gravidez. A filha, Alícia, veio ao mundo com saúde. Seis anos depois, Kelli continua realizando exames preventivos e de rastreamento. “O corpo dá sinais o tempo todo e a prevenção salvou minha vida.”

Apesar de trajetórias diferentes, Sandra e Kelli compartilham um mesmo aprendizado: a importância de se colocar como prioridade. Kelli entendeu isso durante uma cirurgia, ao perceber que, mesmo grávida, o cuidado naquele momento devia ser com ela. Já Sandra, acostumada a cuidar dos outros, reconheceu que precisava voltar o olhar para si. “Para cuidar do outro, você precisa cuidar de você.”

*Bianca Marcondes é finalista do Prêmio A.C.Camargo Jovem Jornalista.