O Presidente russo, Vladimir Putin, ordenou esta quarta-feira aos seus principais ministros e chefes militares que elaborem propostas para um possível teste de armas nucleares, sinalizando uma escalada inédita nas tensões estratégicas entre Moscovo e Washington desde o fim da Guerra Fria. A decisão surge dias depois do Presidente norte-americano, Donald Trump, ter anunciado que os Estados Unidos voltarão a testar armamento nuclear “numa base de igualdade”.

O ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, declarou que, perante as recentes observações e acções dos Estados Unidos, seria “aconselhável preparar imediatamente testes nucleares à escala real”. Belousov garantiu que o polígono de Nova Zembla, no Árctico, está operacional e poderia acolher testes a curto prazo.

Putin ordenou que o Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Defesa, os serviços de informações e as agências civis “recolham informações adicionais sobre a questão, analisem-nas no Conselho de Segurança e apresentem propostas acordadas sobre o possível início dos trabalhos de preparação dos testes”. A Rússia não realiza testes nucleares desde 1990, ano anterior ao colapso da União Soviética.

Belousov acusou Washington de actualizar “activamente as suas armas estratégicas ofensivas” e de se retirar de vários acordos internacionais de controlo de armamento nos últimos anos. “O abandono da moratória sobre os ensaios nucleares por parte dos Estados Unidos seria um passo lógico no sentido de minar a estabilidade mundial”, afirmou o ministro.

O chefe do Estado-Maior russo, Valeri Guerasimov, acrescentou que a ausência de uma explicação oficial americana “não dá motivos para acreditar que os Estados Unidos não irão começar a preparar e, posteriormente, realizar testes nucleares num futuro próximo”. Segundo Guerasimov, a preparação de um teste pode demorar “de vários meses a vários anos”, dependendo do tipo de explosão.

Putin justificou a decisão como uma resposta a “um assunto sério”. Guerasimov sublinhou, ainda, que Moscovo “deve manter o seu potencial nuclear pronto para causar danos inaceitáveis ao inimigo em qualquer circunstância”. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a Rússia aguarda “esclarecimentos” sobre as palavras de Trump, que, segundo o Departamento de Energia dos EUA, não incluiriam explosões nucleares.

A comunidade internacional acompanha o tema com apreensão. Nenhum país, excepto a Coreia do Norte, em 2017, realizou testes nucleares explosivos no século XXI. “O ciclo acção-reação no seu melhor. Ninguém precisa disto, mas talvez cheguemos lá de qualquer forma”, escreveu Andrey Baklitskiy, investigador principal do Instituto das Nações Unidas para a Investigação sobre o Desarmamento, no X, após os comentários de Belousov.

Os Estados Unidos realizaram o último teste em 1992, a China e a França em 1996 e a União Soviética em 1990. Caso Moscovo e Washington voltem aos testes, diplomatas e especialistas receiam o colapso dos últimos instrumentos de controlo de armamento que restam entre as duas maiores potências nucleares do mundo.