
A importância de ouvir os pacientes que vivem com as doenças socialmente determinadas – e de suas décadas de lutas – foi reconhecida durante a solenidade de abertura do 60º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop 2025), realizado de 2 a 5 de novembro, no Centro de Convenções de João Pessoa (PB) e no Centro de Ciências Médicas da UFPB. O evento, cujo tema central é Mudanças climáticas e impactos nas doenças tropicais, é organizado pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) e, neste ano, contou com mais de 4 mil inscrições e uma grade científica com 416 atividades. A programação incluiu uma agenda pré-congresso com reuniões satélites como o 10º Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento das Doenças Infecciosas e Negligenciadas (10º Fórum DTNs), a Reunião Aplicada de Doença de Chagas e Leishmanioses e o XII Workshop da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose, além de cursos e oficinas nos dias 1° e 2 de novembro.
Na abertura, realizada no domingo à noite, o presidente do Medtrop 2025, Sival Filho, da Fiocruz Pernambuco, ressaltou os projetos da Fiocruz e da UFPB no campo da doença de Chagas e afirmou que a Paraíba tem tradição no estudo das doenças tropicais. Ele lembrou que a cidade de Misericórdia (antiga Itaporanga) no estado paraibano, eliminou o Schistosoma mansoni (verme parasita que causa a doença conhecida como barriga d’água), o que representou uma enorme contribuição para a parasitologia médica no Brasil. Segundo ele, diante das mudanças climáticas e de seus impactos nas doenças tropicais, é necessário adotar ações para mitigar os efeitos e preparar-se para novos desafios e emergências que envolvem a saúde pública.
Sobre o tema do congresso, a presidente da SBMT, Rosália Torres, declarou que as mudanças climáticas afetam a todos os seres vivos do planeta e, especialmente, as populações negligenciadas, pois há um aumento das doenças denominadas tropicais. Portanto, o cenário traz desafios que exigem respostas inovadoras. “Há uma intersecção entre clima e saúde, e é preciso encontrar soluções para prevenir e controlar as doenças em um mundo em mudança, construindo um mundo mais saudável que una saúde humana e animal”, disse.
Além de Sinval e de Rosália, a mesa foi composta pela secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (MS), Mariângela Simão, que representou o ministro Alexandre Padilha; pela vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Alda Maria da Cruz; pela reitora da UFPB, Terezinha Domiciano; pelo diretor da Opas, Jarbas Barbosa; e representantes da Secretaria de Saúde da Paraíba, do Conass, do Conasems e de diversas instituições de pesquisa e ensino.
Mariângela lembrou que a ocasião é especial porque os 60 anos do Medtrop coincidem com a celebração de 35 anos do SUS. Diante da ameaça à saúde representada pelas mudanças climáticas, ela reafirmou que é fundamental trabalhar juntos e que MS estava no Medtrop para isto.
Carta do Fórum
A solenidade de abertura foi encerrada com um ato que reuniu os representantes dos diversos movimentos sociais e com a leitura da Carta do X Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento das Doenças Infecciosas e Negligenciadas (FSBEDIN), feita por Eloan Pinheiro, da Fiocruz, com solicitações de implementação da Lei 14. 977/24. O documento, elaborado pelos participantes do Fórum, foi o resultado de um trabalho coletivo.

Ato realizado pelos representantes dos movimentos sociais no auditório Pedra do Reino (fotos: Vítor Rangel)
Na carta, eles consideram que o SUS é uma das políticas públicas mais importantes do país; que as doenças infecciosas e negligenciadas são socialmente determinadas e exigem respostas integradas de saúde, saneamento, habitação, educação, assistência social e justiça; que a política Brasil saudável é uma oportunidade histórica para cooperação entre diferentes ministérios; e que as desigualdades estruturais que atravessam raça/cor, gênero, classe, território e condição migratória persistem e impactam o risco do adoecimento, o não acesso aos serviços de saúde e a mortalidade. Também destacaram a necessidade de fortalecer a aliança entre os movimentos sociais, os serviços do SUS e a comunidade científica.
O documento apresenta propostas em defesa da democracia e de políticas públicas voltadas à redução das desigualdades sociais e à promoção da vida, à integridade do cuidado e à atenção primária, bem como à educação popular e permanente em saúde.
Os movimentos e coletivos do FSBEDIN e do Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas , as redes de pessoas acometidas, as organizações parceiras, as instituições acadêmicas e as demais entidades e pessoas aderentes à carta convocam governos, gestores e gestoras, parlamentares, controle social, comunidade científica e sociedade civil a assumirem, de forma corresponsável, as medidas propostas no documento.