Conheceram-se numa aplicação de encontros, em 2021, casaram-se em fevereiro último e a vida familiar de Rama Duwaji e do recém-eleito mayor de Nova Iorque, Zohran Mamdani, segue, desde esta terça-feira, 4 de novembro, para novos palcos. “Conheci a minha mulher no Hinge, então, ainda há esperança para as apps de romance”, revelou o político em junho durante o podcast The Bulwark.
Apesar de ter sempre adotado uma posição discreta no que à carreira do marido diz respeito, Rama Duwaji – que sempre usou as suas redes para mostrar imagens suas e do seu trabalho – acabou por subir ao palco em noite de vitória do companheiro.
Novo “mayor” da cidade de Nova Iorque, Zohran Mamdani, com a mulher Rama Duwaji, na noite da vitória (Foto: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP)
Ilustradora, designer e ceramista, torna-se agora, aos 28 anos, na primeira-dama de uma das mais importantes e poderosas cidades dos Estados Unidos da América: Nova Iorque. “Não há mais ninguém que eu preferiria ter ao meu lado agora, em todos os momentos”, afirmou Zohran, de 34 anos, em noite de sagração, referindo-se à sua “incrível noiva, Rama, hayati”, fazendo uso da palavra árabe que significa “a minha vida”.
“Rama não é apenas a minha mulher, é uma artista incrível que merece ser conhecida por quem ela é. Podem criticar as minhas opiniões, mas não a minha família”, escreveu Mamdani, em maio, nas redes sociais, depois de ter sido acusado pelos conservadores de estar a esconder a família durante a campanha para a presidência da cidade de Nova Iorque.
Entre os EUA e o Médio Oriente
Rama Duwaji nasceu a 30 de junho de 1997, em Houston, Texas, filha de pais sírios, e mudou-se com a família para o Dubai, quando era, ainda, uma menina de nove anos, como conta a estação norte-americana CNN. A formação de Rama começou a ser feita no Qatar, mas prosseguiu depois os estudos no regresso que fez aos EUA, tendo integrado, até 2021, o Virginia Commonwealth University School of Arts, e concluído especialização em ilustração na Escola de Artes Visuais, em Nova Iorque, em 2024.
Uma carreira que Rama Duwaji tem cumprido a trabalhar temas como as mulheres do Médio Oriente e, mais recentemente, com posição pró-palestiniana. A ilustradora conta, no currículo, com colaborações com as prestigiadas publicações The New Yorker, Vice, The Washington Post ou Vogue, tendo já exposto no Tate Modern.
“Através de retratos desenhados e movimentos, Rama explora as nuances da irmandade e das experiências comunitárias”, lê-se no site de artista, ilustradora e ceramista. A obra explora temas da cultura árabe, a justiça social e os direitos das mulheres e tem evocado, mais recentemente, as denúncias sobre o genocídio em Gaza.
Em entrevista ao site Yung, em abril último, Rama afirmou que a sua arte “é um reflexo do que está a acontecer à volta”. “Neste momento, ainda mais útil do que o meu papel como artista é o meu papel como cidadã americana. Com tantas pessoas expulsas e silenciadas pelo medo, tudo o que posso fazer é usar a minha voz para falar o máximo que puder sobre o que está a acontecer nos Estados Unidos, na Palestina e na Síria”, declarou na conversa em que citou a cantora Nina Simone: “O dever de um artista, no que me diz respeito, é refletir os tempos.”
“Acredito que todos têm a responsabilidade de se manifestarem contra a injustiça, e a arte tem a capacidade de a divulgar. Não creio que todos tenham de fazer um trabalho político, mas a arte é inerentemente política na forma como é feita, financiada e partilhada. Para mi, até mesmo criar arte como refúgio dos horrores que vemos é política. É uma reação ao mundo que nos rodeia”, acrescentou Rama Duwaji.
A vitória de Zohran Mamdani
Aos 34 anos, Zohran Mandani fez história ao ter sido eleito ‘mayor’ de Nova Iorque pelo Partido Democrata. Uma conquista que coloca, pela primeira vez, um muçulmano e progressista à frente dos destinos da capital financeira dos EUA. Com um arranque de carreira imparável, o deputado da Assembleia estadual de Nova Iorque praticamente desconhecido há um ano ascendeu e derrotou Andrew Cuomo, um veterano político que contava com o apoio de nomes poderosos do mundo da política e das finanças, como o ex-presidente Bill Clinton ou o empresário e ex-autarca de Nova Iorque Michael Bloomberg.
Filho de indianos – a mãe é a cineasta Mira Nair, conhecida por filmes como “Casamento à Indiana” -, o recém-eleito nasceu no Uganda e passou parte da infância na África do Sul.
Vencedor Zohran Mamdani (segundo à direita) com a mulher Rama Duwaji (segunda à esquerda) e com os pais: o professor Mahmood Mamdani (à esquerda) e a cineasta Mira Nair (à direita) (Foto: Spencer Platt/Getty Images/AFP)
Aos sete anos, mudou-se com a família para Nova Iorque, fez o ensino secundário na conceituada Escola de Ciências do Bronx, uma instituição de ensino pública de Nova Iorque e, posteriormente, estudou Estudos Africanos no Bowdoin College, no estado do Maine. Aqui, fundou uma filial dos “Estudantes pela Justiça na Palestina”, um compromisso com a causa palestiniana que se tornou mais evidente durante a recente guerra na Faixa de Gaza.
E foi precisamente essa defesa da causa palestiniana que lhe rendeu furiosos ataques das alas mais conservadoras, que o classificam como “antissemita”, mas também de dentro do próprio Partido Democrata, numa cidade tão sensível à defesa de Israel como é Nova Iorque – dada a importância numérica e económica da população judaica.
No seu perfil na rede social X, Mamdani descreve-se como o candidato “democrata socialista”, que pretende “congelar as rendas, tornar os autocarros rápidos e gratuitos e oferecer creches universais e gratuitas”. A sua campanha esteve alicerçada na aspiração de tornar Nova Iorque numa cidade mais barata para quem nela mora. Propôs taxar os ricos para resolver a crise de acessibilidade económica da cidade, o que o levou a ser caracterizado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, e por outros republicanos como um “comunista” e “extremista”.