A entidade que fiscaliza as contas do Estado alerta que é preciso ter “muito cuidado” com as contas públicas. “Não podemos estar descansados nem relaxados em relação à nossa situação orçamental”, defendeu Nazaré Costa Cabral no Parlamento.

Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho de Finanças Públicas | Cristina Bernardo

Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas, avisa o Governo para não baixar os braços na consolidação orçamental, porque há riscos internacionais que podem afetar a estabilidade das contas do Estado.

“É preciso ter muito cuidado com as nossas contas públicas e ter muito cuidado com a nossa dívida pública, que é ainda muito elevada, em percentagem do PIB”, afirmou a líder do CFP durante a audição no Parlamento esta quinta-feira, no âmbito da apreciação do Orçamento do Estado na especialidade.

Considerando que Portugal “não é um país forte — não é tão forte como França, apesar de tudo”, Nazaré Costa Cabral sublinha que “França está numa situação de grande dificuldade financeira, porque tem uma dívida pública enorme, que não para de crescer, não tem capacidade de controle das suas contas públicas, do seu défice orçamental” e, por isso, alerta que “a perceção de risco da República Francesa pode, de alguma maneira, vir a ter contágio numa economia como a portuguesa, que está muito dependente também da francesa”.

“Nós não podemos estar descansados nem relaxados em relação à nossa situação orçamental e à nossa situação financeira”, conclui Nazaré Costa Cabral, que diz nada ter contra a redução da carga fiscal, mas pede cautela quando questionada pelos deputados sobre a descida do IRC: “Enquanto não tivermos um controlo efetivo do comportamento da despesa corrente primária do Estado, pode ser imprudente, neste contexto complexo, até do ponto de vista financeiro, fazer reduções estruturais de receita pública”.

Riscos de lay-offs e despedimentos coletivos

Apesar de Nazaré da Costa Cabral entender que “a economia portuguesa tem tido um desempenho favorável nos últimos anos, acompanhado por taxas de emprego também muito favoráveis”, este “contexto muito benigno” pode ser ensombrado por alguns riscos internacionais “que se têm vindo a acentuar” e aos quais “convém estar atentos”.

Além da situação francesa, a líder do CFP destaca “toda esta alteração da política comercial e as dificuldades em termos de reconfiguração das cadeias de abastecimento”, nomeadamente o “fornecimento de chips, matérias-primas e outros componentes que vêm, em grande medida, da China para as empresas europeias e que podem afetar a breve trecho a atividade económica das empresas”. Nazaré da Costa Cabral alerta para os “riscos de impactos sociais” que estes problemas podem gerar, “sejam lay-offs ou até de despedimentos coletivos”.

“Acho que, neste momento, o setor produtivo está a sofrer já os efeitos quer das alterações de tarifas, quer da reconfiguração da política comercial e destas dificuldades muito particulares de abastecimento de várias empresas”, considera a economista. Por outro lado, salienta “o impacto que já se começa a fazer sentir da inteligência artificial e da robotização das empresas”. Uma vez que “há empresas que já estão a antecipar esses efeitos”, a líder do CFP constata que há “um aumento dos despedimentos em certos setores”.

Nazaré da Costa Cabral alerta ainda para a “vulnerabilidade” da economia portuguesa, porque está “muito exposta ao setor do turismo”. O risco, neste caso, é que “qualquer agudizar da situação geopolítica possa afetar” a atividade turística.

Nesta audição parlamentar, Nazaré da Costa Cabral reiterou ainda as dúvidas que já tinha manifestado quando o CFP fez o parecer ao Orçamento do Estado, nomeadamente sobre o facto de a despesa estar subestimada e a receita alavancada em dividendos e venda de imóveis.

Atualizado com mais informação sobre os riscos às 15h44